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Fóssil de dinossauro mais antigo da África é achado no Zimbábue
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Fóssil de dinossauro mais antigo da África é achado no Zimbábue

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Reconstrução artística do Mbiresaurus raathi no Zimbábue
 (Foto: Reprodução/Andrey Atuchin)
Foto: Reprodução/Andrey Atuchin Reconstrução artística do Mbiresaurus raathi no Zimbábue

Uma equipe internacional de paleontólogos liderada pelo Instituto Politécnico e pela Universidade Estadual da Virgínia (EUA), com participação de um cientista brasileiro, encontrou na região norte do Zimbábue um fóssil de dinossauro que está entre os mais antigos já vistos. Em escavações que ocorreram de 2017 a 2019, o dinossauro que recebeu o nome de Mbiresaurus raathi chamou a atenção por seu estado de preservação. Segundo os cientistas, ele teria cerca de 230 milhões de anos. A descoberta foi publicada na quarta-feira, 31, na Nature.

Trata-se de um sauropodomorfo (um dinossauro de pescoço comprido), com cerca de 1,83 metro de comprimento e uma cauda longa. O esqueleto do mais antigo dinossauro já encontrado na África se encontra quase completo, faltando algumas partes do crânio e da pata dianteira. "Os primeiros dinossauros, como o Mbiresaurus raathi, mostram que a evolução dos dinossauros ainda está sendo escrita a cada nova descoberta e que a sua ascensão foi muito mais complexa do que o previsto anteriormente", diz Sterling Nesbitt, um dos autores do estudo.

NOVA TEORIA

O grupo de pesquisadores tem agora uma nova teoria sobre o processo de dispersão dos dinossauros pelo mundo, que apoia a hipótese de que os primeiros foram condicionados pelo clima a habitar apenas algumas áreas do planeta. Os cientistas acreditam que quando o supercontinente Pangeia ainda não tinha se separado, o clima era dividido em zonas mais temperadas nas latitudes mais altas e desertos nos trópicos inferiores. Essa divisão influenciaria a distribuição dos animais pelo continente, o que significaria que a dispersão dos dinossauros foi condicionada pela latitude - eles estariam restritos ao sul da Pangeia, a aproximadamente 50º de latitude. Com a separação continental, teriam se dispersado pelo mundo pelo restante do Período Triássico.

Para reforçar essa afirmação, eles combinaram dados geoquímicos e fósseis em conjunto com informações sobre a genealogia dos animais. Como os dinossauros mais antigos foram encontrados em áreas de Argentina, Brasil e Índia, o grupo de pesquisadores procurou no Zimbábue, cujo norte também fica no mesmo cinturão climático, preenchendo a lacuna geográfica.

DINÂMICA

Segundo os pesquisadores, o Mbiresaurus se locomovia apoiado nas patas traseiras e tinha uma cabeça relativamente pequena. Seus dentes são pequenos, serrilhados e em forma de triângulo, o que sugere que era herbívoro ou onívoro. O nome escolhido para o fóssil une "Mbire", nome do distrito onde o animal foi encontrado e de uma dinastia Shona que historicamente governou a região, e "raathi", uma homenagem ao paleontólogo Michael Raath, o primeiro a encontrar fósseis no norte do Zimbábue.

"Nunca esperamos encontrar um esqueleto de dinossauro tão completo e bem preservado", disse Christopher Griffin, outro autor do estudo publicado na Nature. "Quando encontrei o fêmur do Mbiresaurus, imediatamente o reconheci como pertencente a um dinossauro e sabia que estava segurando o dinossauro mais antigo já encontrado na África. Quando continuei cavando e encontrei o osso do quadril esquerdo ao lado do osso da coxa esquerda, tive de parar e respirar; eu sabia que muito do esqueleto provavelmente estava lá, ainda articulado em posição de vida", relata.

USP

A equipe internacional envolvida na descoberta contou com paleontólogos dos Museus e Monumentos Nacionais do Zimbábue, do Museu de História Natural do Zimbábue e da Universidade de São Paulo (USP). Ao lado do esqueleto do sauropodomorfo, foram achados outros fósseis do mesmo período, a Idade Carniana do período Triássico Superior. Os cientistas citam um dinossauro herrerassaurídeo (um dos primeiros carnívoros); parentes de crocodilos e parentes de mamíferos primitivos.

Grande parte do esqueleto do Mbiresaurus está sendo mantida na Universidade Estadual da Virgínia enquanto é limpa e estudada. Depois, ele e os outros fósseis encontrados ficarão permanentemente no Museu de História Natural do Zimbábue, em Bulawayo. Segundo Michel Zondo, curador e preparador de fósseis do museu, trata-se da primeira descoberta de um sauropodomorfo desse tamanho no país. "O fato de o esqueleto estar quase completo o torna um material de referência perfeito."

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