Logo O POVO+
Putin anuncia mobilização militar parcial e cita potencial nuclear
Farol

Putin anuncia mobilização militar parcial e cita potencial nuclear

A mobilização anunciada por Putin foi descrita na Europa como uma "admissão de fraqueza" por parte de Moscou
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
PUTIN durante evento para marcar o 1160º aniversário da Rússia (Foto: Ilya PITALEV / SPUTNIK / AFP)
Foto: Ilya PITALEV / SPUTNIK / AFP PUTIN durante evento para marcar o 1160º aniversário da Rússia

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou nesta quarta-feira, 21, mobilização militar parcial no país em virtude da guerra da Ucrânia. Em pronunciamento em rede nacional, o líder indicou que a medida envolve a movimentação de reservistas, e afirmou que a ação é "necessária", sendo a "única opção" no momento.

Além disso, Putin declarou apoio aos referendos convocados em regiões separatistas da Ucrânia, em um movimento semelhante ao ocorrido durante a anexação da Crimeia pela Rússia. Entre as regiões afetadas, o mandatário destacou Luhansk e Donetsk. O russo defendeu seguidas vezes o que chamou de "libertação" de territórios de "neonazistas".

O presidente sugeriu ainda o uso de armas nucleares em virtude do confronto, indicando que todas as opções disponíveis podem ser utilizadas. "Eu não estou blefando", afirmou. Segundo ele, o potencial nuclear do país deve ser lembrado por aqueles que fazem ameaças à Rússia e sua integridade territorial.

Putin fez uma série de críticas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O líder afirmou que os ataques por parte da aliança contra a Rússia aumentaram nos últimos anos. Segundo ele, o Ocidente não deseja paz entre Ucrânia e Rússia. "Não estão satisfeitos com uma solução de paz. Quando estivemos buscando atingir compromissos, houve comandos para atrapalhar negociações".

Em sua visão, líderes ocidentais que vem buscando apoiar a Ucrânia com equipamentos militares visando o longo prazo estão tomando uma posição "irresponsável".

Evitando anunciar uma mobilização geral, temida por milhões de russos, Putin declarou uma mobilização "parcial", considerada "urgente e necessária". De acordo com o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, 300.000 reservistas serão convocados inicialmente.

A mobilização anunciada por Putin foi descrita na Europa como uma "admissão de fraqueza" por parte de Moscou, cujo exército tem sofrido derrotas militares das mãos das forças ucranianas. O anúncio, entendido como ameaça, foi criticado por lideranças mundiais.  A ameaça coloca a paz mundial em perigo, denunciou o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, nesta quarta-feira (21).

"Ameaçar com armas nucleares é inaceitável e um perigo real para todos. A comunidade internacional deve se unir para prevenir tais ações. A paz mundial está em perigo", afirmou Borrell em mensagem no Twitter.

Segundo o diplomata espanhol, os anúncios de Putin sobre "falsos referendos, mobilização militar parcial e chantagem nuclear são uma grave escalada" no conflito na Ucrânia. 

A Alemanha condenou a mobilização militar russa. "Trata-se de mais uma escalada dessa guerra ilegal de agressão contra a Ucrânia", afirmou o vice-chanceler alemão, Robert Habeck. "É um gesto ruim e errado por parte da Rússia."

Os principais diplomatas da União Europeia (UE) se reuniram na noite desta quarta-feira para discutir novas sanções contra a Rússia. A chefe da União Europeia, Ursula von der Leyen, também falou sobre as novas palavras de agressão de Putin e declarou à CNN: "Acho que isso exige sanções da nossa parte novamente".

"Não à guerra"
Um sinal de preocupação entre os cidadãos russos é que os sites das companhias aéreas ficaram saturados após o discurso de Putin e uma petição online contra a mobilização já coletou 230.000 assinaturas.

Mais de 1.300 pessoas foram presas nas manifestações contra a mobilização de reservistas de Putin, segundo a OVD-Info, uma organização especializada em contagens de prisões.

Em Moscou, jornalistas da AFP testemunharam pelo menos 50 prisões em uma das principais estradas da capital russa. Em São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia, um ônibus inteiro de pessoas detidas era conduzido pela polícia.

Os manifestantes gritavam: "Não à guerra!", "Não à mobilização!".

"Todo mundo está com medo. Sou pela paz e não quero ter que atirar. Mas é muito perigoso sair agora, caso contrário haveria muito mais pessoas", disse Vassili Fedorov, um manifestante em São Petersburgo.

Alina Skvortsova, 20, espera que os russos comecem a "entender" a natureza da ofensiva na Ucrânia. "Quando eles realmente entenderem, vão às ruas, apesar do medo."

Referendos "ilegítimos"
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou que não acredita que a Rússia recorreria a armas nucleares. "Não acho que essas armas serão usadas. Não acho que o mundo vá deixar isso acontecer", disse o presidente, segundo trechos de uma entrevista ao canal alemão Bild TV.

Já o comandante-chefe do exército ucraniano, Valery Zalujny prometeu "destruir" os russos que chegarem ao território ucraniano para lutar, incluindo aqueles que serão mobilizados após a ordem de Putin.

Por seu lado, a China pareceu tomar certa distância ao pedir um cessar-fogo e respeito territorial dos Estados, uma referência à planejada anexação de parte da Ucrânia pela Rússia.

A Turquia, por sua vez, condenou os referendos de anexação "ilegítimos" anunciados pela Rússia, alertando que estes "não serão reconhecidos pela comunidade internacional".

Confrontado com as dificuldades de sua ofensiva na Ucrânia, que está entrando em seu oitavo mês, Putin tenta retomar a iniciativa.

Transferência de prisioneiros
Antes do chamado à mobilização parcial, os "referendos" de anexação foram anunciados na terça-feira nas regiões da Ucrânia controladas por Moscou, a serem realizados de 23 a 27 de setembro.

A doutrina militar russa prevê a possibilidade de recorrer a ataques nucleares caso os territórios considerados russos por Moscou sejam atacados, o que poderia ser o caso das áreas anexadas.

As votações ocorrerão nas regiões de Donetsk e Lugansk, que formam o Donbass (leste), bem como nas áreas de Kherson e Zaporizhzhia, no sul.

Kiev e o Ocidente criticaram essas consultas, que foram descritas como "simulacros" sem valor legal.

Os referendos seguem o padrão estabelecido em 2014, quando a Rússia anexou a península da Crimeia após um processo semelhante.

Enquanto isso, dez prisioneiros de guerra (cinco britânicos, dois americanos, um marroquino, um sueco e um croata) foram transferidos da Rússia para a Arábia Saudita, como parte de um intercâmbio entre Moscou e Ucrânia.

Esta transferência foi anunciada nesta quarta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita.

No terreno, a mobilização russa de reservistas pode significar um fortalecimento da violência no início do oitavo mês de conflito.

A Ucrânia acusou novamente a Rússia de bombardear as proximidades da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa.

 

O que você achou desse conteúdo?