A notícia pode ser ruim ou boa, mas é certo que dentre as centenas de comentários nas postagens das redes sociais do O POVO, terá um dizendo que o autor precisa falar sobre o verão de 1993. O comentarista tem 32 anos, é universitário e mora no distrito de Paraguai, no município de Cruz, vizinho a Jijoca de Jericoacoara. Autor de dois livros e outras obras, ele divulga a publicação mais recente por meio de frases feitas e hashtags. O objetivo é instigar o leitor a visitar o perfil e adquirir assim um exemplar.
O livro é um romance baseado em relatos de abusos sexuais sofridos por duas irmãs na adolescência e faz questão de escancarar o acobertamento e silenciamento ainda tão comuns em crimes desse tipo. Mesmo com o peso do assunto, Samuel tem uma leveza na fala e reconhece, humildemente, que não tinha o hábito de leitura e que precisa melhorar como escritor, ainda que sua obra já tenha vendido mais de 10 mil cópias.
No Instagram, rede preferida para a divulgação, Samuel tem prints de mensagens de algumas celebridades que se sensibilizaram com o assunto, adquiriram o livro ou ajudaram na divulgação, tais como Lulu Santos, Miguel Falabella, Edmilson Filho e Juliana Paes, dentre outros.
O POVO - Como você começou a usar esse método de divulgação?
Samuel Ivani - A melhor forma que eu encontrei de vender o meu livro foi assim, falando dele nas páginas grandes e populares das redes sociais, principalmente do Instagram. Dessa forma dá para atingir um número bem maior de pessoas e obter resultado diferente em relação a outras formas de venda, que são mais complicadas. Comecei a comentar nas páginas de celebridades porque eu tinha livros publicados e já tinha tentado outras formas de divulgação, como tráfego pago, que são aquelas publicações patrocinadas, mas não estava funcionando. Os sebos também não davam retorno. Como acabei perdendo o meu emprego de professor e veio a pandemia, resolvi me dedicar totalmente a vender o livro usando a internet.
O POVO - Quando você começou a escrever romances?
Samuel Ivani - Eu me descobri escritor em 2011. Participei de uns concursos de poesia, ganhei alguns, aí coloquei na minha cabeça que quando eu conseguisse comprar um computador eu ia escrever um romance, e foi o que eu fiz. O livro era horrível (risos). Como eu não tinha o hábito de leitura, havia muitos erros. E como sempre me baseio na realidade, escrevi o livro representando alguns colegas da faculdade, e eles não gostaram muito (risos).
O POVO - E por que você escreveu o “Eu preciso falar sobre o verão de 1993”?
Samuel Ivani - Em 2018, num almoço de família, a minha irmã revelou que tinha sofrido abuso sexual. Minha outra irmã também. E o agressor tinha sido nosso avô materno. Aí a gente começou a conversar, e os meus irmãos acabaram dizendo que tinham vivido algo parecido. Acabei notando que em regiões interioranas pobres, quase todo mundo passa por um episódio parecido. Por isso resolvi escrever essa história. Minha irmã contou que ela tinha falado sobre o estupro para alguns parentes e familiares mas ninguém acreditou. Resolvi escrever o livro para as pessoas acreditarem. Inclusive tem alguns parentes que não gostaram porque acham que eu mancho o nome da família. As pessoas falam muito pouco sobre abuso sexual. Normalmente as vítimas são culpabilizadas e acabam não denunciando. Elas escondem porque sentem que a perversão é delas e não do estuprador. Não denunciam porque a sociedade em vez de acolher a vítima faz é julgar. Recebo muitos depoimentos todos os dias, tanto de mulheres quanto de homens.