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Pinguim-rei enfrenta as ameaças do aquecimento global no Oceano Índico
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Pinguim-rei enfrenta as ameaças do aquecimento global no Oceano Índico

A população de aves se restabeleceu no século XX, "mas se estagnou há 20 anos", explica Cristofari.
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Milhares de pinguins-rei (Manchots Royaux) são retratados em 20 de dezembro de 2022 na Ilha Posession, parte das Ilhas Crozet, que são um arquipélago subantártico de pequenas ilhas no sul do Oceano Índico, formando um dos cinco distritos administrativos do Terras Austrais e Antárticas Francesas.
As Ilhas Crozet são o lar de quatro espécies de pinguins. Os mais abundantes são o pinguim macarrão, dos quais cerca de 2 milhões de casais se reproduzem nas ilhas, e o pinguim-rei, lar de 700.000 casais reprodutores; metade da população mundial.
Os mamíferos que vivem nas Ilhas Crozet incluem focas e elefantes marinhos do sul. Baleias assassinas foram observadas atacando as focas.
 (Foto: PATRICK HERTZOG / AFP)
Foto: PATRICK HERTZOG / AFP Milhares de pinguins-rei (Manchots Royaux) são retratados em 20 de dezembro de 2022 na Ilha Posession, parte das Ilhas Crozet, que são um arquipélago subantártico de pequenas ilhas no sul do Oceano Índico, formando um dos cinco distritos administrativos do Terras Austrais e Antárticas Francesas. As Ilhas Crozet são o lar de quatro espécies de pinguins. Os mais abundantes são o pinguim macarrão, dos quais cerca de 2 milhões de casais se reproduzem nas ilhas, e o pinguim-rei, lar de 700.000 casais reprodutores; metade da população mundial. Os mamíferos que vivem nas Ilhas Crozet incluem focas e elefantes marinhos do sul. Baleias assassinas foram observadas atacando as focas.

Como todos os anos em dezembro, a Baía dos Marinheiros, na ilha francesa da Possessão, está cheia: milhares de pinguins-rei se deslocam ao território isolado no Oceano Índico para a reprodução. Entretanto, as mudanças climáticas ameaçam a espécie.

Reconhecida por suas penas brancas e pretas e um tufo amarelo, a espécie sobreviveu por pouco ao massacre cometido entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX por caçadores de focas no Arquipélago Crozet.

"No final", quando não existiam mais focas para caçar, "os caçadores passaram a usar as aves como combustível, queimando-as para derreter a gordura das focas. Depois de um certo tempo, passaram a produzir óleo de pinguim. Mas não era de boa qualidade", conta Robin Cristofari, especialista em pinguins da Universidade de Turku, na Finlândia.

"A espécie esteve à beira da extinção", lembra o cientista, enquanto observa a colônia de pinguins nesta ilha localizada nas Terras Austrais e Antárticas Francesas (TAAF).

A população de aves se restabeleceu no século XX, "mas se estagnou há 20 anos", explica Cristofari.

Ele acrescenta que "após um primeiro obstáculo, a espécie enfrenta outro ainda maior: o aquecimento global".

 

O pinguim-rei passa a vida no mar e só volta à terra para botar seus ovos.

Para isso, precisa de um local seco, mas a uma distância razoável da frente polar: área onde as águas quentes e frias do Oceano Índico se encontram. Lá eles se alimentarão de plâncton e peixes.

A frente polar está localizada 350 quilômetros ao sul do Arquipélago Crozet no inverno. No entanto, em anos muito quentes pode ir até 750 quilômetros de distância, longe demais para o animal se alimentar e voltar a tempo de acasalar e alimentar o filhote.

"O sucesso da reprodução depende da distância da frente polar", resume Robin Cristofari.

Com o aquecimento global, a frente se desloca para o sul e, eventualmente, Crozet pode se tornar inabitável para esses pinguins, que precisarão se mudar para outras ilhas mais ao sul.

Dos quase um milhão de pares registrados no mundo, a metade se reproduz nas Ilhas Crozet e 300.000 nas Ilhas Kerguelen, 1.400 quilômetros mais a leste.

Embora os pesquisadores não acreditem que a espécie corra risco de desaparecer "nos próximos 50 anos", seu modo de vida pode ser seriamente alterado, diz Cristofari.

 

Um pinguim, que vive em média 25 anos, tem seu primeiro filhote aos 6 ou 7 anos. "Brincalhão e curioso", irá se amontoar em gigantescas colônias com o ovo equilibrado nas patas e a barriga para cima.

Machos e fêmeas dividem o trabalho igualmente e trocam o ovo, que está para chocar, um com o outro. Este é um momento perigoso porque os predadores estão à espreita.

Em um ciclo clássico, machos e fêmeas chegam ao Arquipélago Crozet no início de novembro, se encontram e acasalam. A fêmea botará um ovo, entregará ao macho e irá ao mar para se alimentar.

Durante os 50 dias de incubação e no primeiro mês de vida, eles cuidam alternadamente do filhote: podem ficar até um mês sem comer para cuidar do ovo.

Os filhotes são bem alimentados até maio e depois jejuam durante o inverno do sul, embora sejam alimentados pelos pais de vez em quando.

Os jovens pinguins deixam a terra, estimulados pela fome, doze meses após saírem do ovo.

Essa alternância entre alimentação e jejum é de particular interesse para os pesquisadores.

"É uma espécie que passa de obesa aguda a muito magra várias vezes ao ano", observa Robin Cristofari, algo que "para um organismo humano seria devastador".

etr/pa/hj/pz/aoc/an/ms/mr

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