Em assembleia realizada ontem, o empresário Josué Gomes foi destituído da presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), numa disputa política que se arrasta desde outubro do ano passado. A decisão é inédita na entidade.
Representantes de 47 sindicatos votaram por sua destituição do cargo, com duas abstenções e um voto contra. Josué Gomes não estava presente quando os delegados tomaram a decisão. A expectativa é de que ele recorra à Justiça.
Agora, o vice-presidente mais velho deve assumir o comando da Fiesp até uma nova eleição. Os nomes mais cotados para comandar a entidade são os de Rafael Cervone Netto, Dan Ioschpe e Marcelo Campos Ometto.
O encontro de ontem foi agendado pelo próprio Josué em dezembro como uma resposta a um grupo de sindicatos patronais que criticava sua gestão e que havia marcado uma assembleia com o objetivo de tirá-lo do cargo. Na primeira parte da reunião, o empresário teve de responder a perguntas sobre temas como suas viagens e reuniões em Brasília, além do manifesto em favor da democracia assinado pela Fiesp às vésperas da eleição sem o consentimento de todos os filiados.
Numa primeira votação, dos 90 delegado presentes 60 rejeitaram as explicações. Depois disso, Josué deixou a assembleia, que foi retomada e terminou com sua destituição.
O encontro começou pouco depois das 14h50 - estava previsto para as 14h, mas houve um atraso por causa de almoço realizado entre Josué e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Os votos dos delegados começaram a sair por volta das 18h50.
Skaf
Nos últimos meses, a Fiesp enfrenta uma intensa disputa política Josué é acusado de ser distante da entidade e dos pleitos de interesse setorial, o que deu munição para que os sindicatos considerados menores passassem a pressionar pela saída do executivo.
Parte da Fiesp enxergou o manifesto a favor da democracia como uma afronta da entidade ao então candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) - que contava com o apoio do empresário Paulo Skaf, apontado como articulador do movimento contra Josué.
Herdeiro da Coteminas, Josué é filho de José Alencar, que foi vice-presidente nos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto. Na presidência da Fiesp desde o início do ano passado, o empresário encerrou um período de quase 18 anos de Skaf no comando da entidade.
Em dezembro, Josué chegou a ser chamado pelo presidente Lula para ser ministro da pasta hoje ocupada por Alckmin, mas recusou o convite sob o argumento de que não poderia assumir o cargo como um "derrotado" na Fiesp. O empresário alegou que, se fizesse isso, pareceria um "refugiado" dentro do governo.