Carnaval não é somente a fuga da rotina e dos potenciais problemas que ainda estarão lá quando fevereiro acabar. Carnaval é também um exercício de festejar junto de desconhecidos, de repensar o medo da rua e de valorizar (e vestir) a cultura em sua dimensão mais popular.
Fortaleza andava necessitada de uma folia assim, despretensiosa, mas levada muito a sério. O que acontece na avenida Domingos Olímpio é um laboratório da Capital que precisamos refundar. Maracatus, escolas de samba, afoxés e cordões unem diferentes territórios das periferias sem qualquer perigo de agrupar moradores de bairros distintos (cenário que infelizmente difere da realidade de trechos faccionados pela Cidade).
Os blocos carnavalescos também evidenciam outra característica nossa que merece ser festejada: a autogestão. A capacidade de juntar gente disposta a conseguir promover a folia a despeito das burocracias do poder público é louvável e representativa da maneira como artistas e produtores culturais fortalezenses se movimentam. A vontade de viver e promover a alegria se sobrepõe a problemas históricos e que já não deveriam fazer parte da nossa festa.
Ceará afora, os municípios se articulam para ter um Carnaval atrativo, que mescla iniciativas locais com artistas nacionais. Dessa forma, dá mais protagonismo ao potencial econômico e turístico que a folia tem e pode desenvolver ainda mais nos próximos anos.
Pelo País, é tempo de alegria de um Carnaval que acontece num contexto de retomada da cultura. A presença de Margareth Menezes, ministra da Cultura, no Galo da Madrugada, em Recife, na tarde de sábado, 18, é simbólica de um novo momento.
Após dois fevereiros de engasgo, que alívio é poder finalmente revisitar espaços de folia e viver o despertar de novos blocos e tradições. Em Fortaleza, em todo o Estado e nas cidades pelo País, um denominador comum é a certeza de que, com Carnaval, nós somos muito mais felizes, diversos e brasileiros no sentido mais democrático da palavra.