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O dia depois do terremoto que matou 40 mil
Farol

O dia depois do terremoto que matou 40 mil

Aminah Naham voltou ao Ceará após a tragédia, no entanto, não esquece daqueles que ainda precisam de ajuda na Turquia e na Síria
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Aminah Naham é cearense que sobreviveu ao terremoto na Turquia (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Aminah Naham é cearense que sobreviveu ao terremoto na Turquia

A cearense Aminah Naham morava na Turquia há quatro anos, mas teve de deixar tudo para trás após o terremoto do dia 6 de fevereiro, que causou a morte de mais de 40 mil pessoas no país e na vizinha Síria. O prédio em que morava desabou e ela passou seis dias dormindo em uma praça com o resto da vizinhança.

Depois de voltar ao Ceará por intermédio do consulado brasileiro na Turquia, Aminah busca se restabelecer. Ela, que já fez trabalho humanitário com refugiados, tenta se reerguer financeira e emocionalmente para voltar a ajudar as pessoas queridas que continuam no país. Muitas das quais Aminah não conseguiu nem se despedir.

O POVO - Como foram as primeiras horas após o terremoto?

Aminah Naham - Na hora do terremoto, pela situação, eu acho até que eu me comportei bem, porque é uma coisa pavorosa, mas no momento eu não chorei, eu não entrei em pânico. Foi às 4h17min, um tremor muito violento, o prédio balançava inteiro. Como eu e meu marido estávamos levantando para fazer a oração, a gente simplesmente clamou a misericórdia de Deus. Eu só pensava pela minha mãe, pelas pessoas, pelos meus amigos, pelo meu marido, porque a sensação que eu tive foi que tudo iria acabar mesmo, que nós iríamos ser soterrados. Mas, Deus ouviu as nossas preces e nos livrou do pior. No momento, a primeira coisa que eu pensei foi em salvar as outras pessoas, a família de sírios com sete crianças e tinha uma gestante. Fui acordar essas pessoas que moravam na parte de baixo, em uma parte subterrânea, e os donos do prédio, dois idosos turcos, fui chamá-los. Deu tudo certo, porque conseguimos colocar eles na calçada. Estava chovendo muito, muito frio, muita neve. Logo após veio o desespero das pessoas na rua, o desabamento, algumas pessoas falando e informando que outros locais também tinham desabado. Mesmo assim nós não tínhamos a dimensão.

OP - Como seu trabalho de voluntária com refugiados sírios influenciou na sua reação à tragédia?

Aminah - Na minha vida inteira eu acho que foi o que mais me ajudou. Vendo os refugiados, vendo a força, a determinação, o recomeço de cada família, o fato das pessoas saberem economizar, mesmo não tendo nada, saberem dividir, a alimentação que é sempre unida, essas coisas me fizeram ficar forte. Eu sempre acreditei que, além de estar cuidando de pessoas, eu estava sendo cuidada também, aprendendo muito com eles. Nesse momento, o clima e todo o cenário da Turquia é um estado de guerra, como se fosse a guerra na Síria, que já faz 12 anos. E o terror continua, porque sempre que acontecem essas coisas fica um rastro de destruição, de dor e traumas, e isso leva tempo pra ser curado.

OP - O seu marido precisou sair da Síria devido à guerra. E, agora, vocês dois precisaram sair da Turquia devido ao terremoto. Como você se sente precisando recomeçar novamente com ele?

Aminah - Meu marido teve que sair para sobreviver. Ele é engenheiro, tinha loja, tinha carro, tinha moto, tinha casa, tinha terrenos na cidade, e tudo foi destruído por bombardeios. A Síria vive esse drama. Muitas pessoas se importam com todos os problemas do mundo, mas em 12 anos poucos sabem e poucos se importam do drama que ocorre na Síria. Isso faz com que as pessoas se sintam injustiçadas, abandonadas. E é muito triste, é muita dor. A guerra continua. Os parentes do meu marido continuam lá. Nessa tragédia, eu só tenho a agradecer a Deus, não pela tragédia, mas pelo livramento que deu para mim e para o meu marido. Mesmo perdendo coisas materiais, mostra que Deus tem um propósito na nossa vida. Eu quero continuar, sim, os meus trabalhos voluntários e continuar ajudando as pessoas, mas no momento eu estou precisando de ajuda.

OP - Qual é a sua expectativa para a reconstrução do país?

Aminah - Eu amo a Turquia, em especial eu amo Gaziantep, a cidade onde eu morava. É muito duro deixar as pessoas da maneira que eu saí, não podendo me despedir em meio ao desespero. Eu sei que a reconstrução vai ser difícil. O mundo inteiro está ajudando a Turquia, o que não acontece com a Síria. Deveria acontecer, as pessoas deveriam se unir do mundo inteiro para ajudar a Síria também porque, além do terremoto, o país já tem histórico de sofrimento de guerra. Eu creio que vai sim [haver reconstrução], mas vai demorar um bom tempo. O povo turco é um povo muito forte, assim como o povo sírio. O que eu posso desejar é que a Turquia volte a ser a grande nação forte que sempre foi. Eu aprendi que a vida é feita de recomeços. Nós precisamos estar preparados para isso. (Colaborou Bia Freitas / Especial para O POVO)

Para ajudar Aminah Naham e seu marido:

Facebook: bityli.com/o0Fjh

 

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