O presidente americano, Joe Biden, anunciou ontem a intenção de repassar R$ 2,5 bilhões apenas para o Fundo Amazônia. Segundo a Casa Branca, ele pedirá ao Congresso dos Estados Unidos que aprove o recurso. Mais tarde, após conversa com o secretário especial americano John Kerry, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o apoio em ações ambientais diversas pode chegar a US$ 2 bilhões (R$ 10 bilhões).
O valor para o Fundo Amazônia é dez vezes maior do que o inicialmente previsto pelo governo americano, em fevereiro, de US$ 50 milhões. Segundo Biden, foi requerido o montante no contexto do "renovado compromisso do Brasil de acabar com o desmatamento até 2030". Ele ainda anunciou a doação de R$ 5 bilhões para o Fundo Verde para o Clima, instrumento das Nações Unidas cujo objetivo é o financiamento climático para países em desenvolvimento, e convocou outras nações a darem apoios desse tipo - a questão do financiamento de ação vem sendo o principal entraves das últimas cúpulas climáticas.
Os anúncios ocorreram na reunião do Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, iniciativa do ex-presidente Barack Obama, que Biden decidiu retomar ao chegar à presidência dos Estados Unidos em 2021. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscou aproveitar o evento para desfazer o mal-estar com Biden, após sinalizações do governo em visita à China e declarações conjuntas com a Rússia sobre a Guerra da Ucrânia, que causaram forte reação da comunidade internacional.
No evento desta quinta, Biden afirmou que o momento é de "grande perigo, mas também de grandes possibilidades". Os Estados Unidos pretendem avançar em medidas para reduzir emissões de carbono nos setores de energia e transporte, com maior uso de energia limpa, metas "ambiciosas" de emissão zero por veículos até 2030 e de "descarbonizar" o comércio internacional de cargas marítimas. O país também busca cortar emissões de metano e acelerar o fim do uso dos hidrofluorcarbonetos.
Em breve declaração no início do encontro, o assessor especial da Casa Branca para o Clima, John Kerry, advertiu que a janela para conter o aquecimento global "está se fechando". Enfatizou ainda a importância dada ao governo americano para tratar a ameaça das mudanças climáticas. Na sequência, teria conversado com Marina Silva, que telefonou para agradecer os recursos para o Fundo Amazônia.
A sinalização do secretário americano é de que o aporte seria apenas o início dos esforços, disse a ministra brasileira. "É apenas o início dos esforços para que possamos fazer uma alavancagem de algo em torno de US$ 2 bilhões, somando todas as frentes de atuação, não só apenas para o Fundo Amazônia", disse a ministra. O evento foi fechado, com transmissão ao vivo somente da fala de Biden, e as demais informações foram repassadas por fontes oficiais.
Segundo Marina, o anúncio desta quinta-feira vem na esteira das conversas que começaram na COP-27, realizada no ano passado no Egito. Contudo, até então, não havia um valor fechado. "Vai ser esse aporte inicial de recursos, da ordem de US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, na ordem de US$ 50 milhões para a parte de reflorestamento no âmbito do BTG Pactual, e de US$ 1 bilhão para estruturação florestal na América Latina", afirmou.
A intenção, de acordo com a ministra, é que os recursos do Fundo Amazônia sejam destinados à pesquisa. "O compromisso nosso, do próprio governo, é de que o fundo volte a ser utilizado para investir em pesquisa, em ciência e tecnologia, inovação, projetos de desenvolvimento sustentável." A expectativa é de que a iniciativa americana ainda inspire outros países a contribuir.
Por fim, ao comentar sobre o fórum da manhã de ontem, Marina disse ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, durante seu discurso, os compromissos em contribuir com a redução de emissões que levam ao aquecimento do planeta e com o desmatamento zero. "O Brasil quer ter uma participação no enfrentamento da mudança do clima, envolvendo todos os setores, mas, neste momento, nós sabemos que o que mais contribui para as emissões brasileiras é o desmatamento e a questão da pecuária de baixa produtividade."
Em sua intervenção no evento, Lula disse que não "há sustentabilidade num mundo em guerra" e "a resposta ao desafio climático - talvez o maior da nossa geração - depende da ação coordenada entre todos os países". "O Brasil está fazendo a sua parte, e vai avançar ainda mais nos esforços para mitigar os efeitos da mudança do clima", afirmou, aproveitando para cobrar mais recursos dos países ricos, em um discurso que remete ao compromisso firmado durante a Cúpula do Clima (COP) de Copenhague, em 2009. Naquela época, os países desenvolvidos haviam previsto alocar US$ 100 bilhões para nações em desenvolvimento até 2020, mas a promessa não foi cumprida.
"Além da paz, é urgente buscarmos uma relação de confiança entre os países. No entanto, desde a Convenção do Clima, em 1992, no Rio, a confiança entre os atores envolvidos tem declinado. Desde que o compromisso foi assumido, em 2009, o financiamento climático oferecido pelos países desenvolvidos mantém-se aquém da promessa de US$ 100 bilhões por ano. Como disse no início, é preciso que todos façam a sua parte."