Embora as feridas da terceira maior matança no Ceará, a Chacina do Curió de 2015, nunca terem cicatrizado, Ana Costa seguiu em frente.
Para complementar a dor, ainda perdeu o marido, José Gilvan Pinto Barbosa, naquele fatídico dia. Aos poucos, a nova Ana teve de se reinventar.
Ela, que também é membro do movimento Mães do Curió, atualmente é empreendedora e proprietária do Salão Ana Costa, que tem como lema o regaste à autoestima.
Para chegar até o patamar de ter seu pequeno e próprio negócio, conheceu o Fundo Dona de Mim, que impulsiona microempreendedoras individuais impactadas pela crise econômica e social, e com ajuda do projeto Mulheres do Brasil recebeu R$ 2 mil para investir no seu empreendimento, sendo a plataforma n2 responsável pela orientação do investimento.
O POVO - Como foi o seu processo para sair da tragédia para empreender?
Ana Costa - Eu nunca deixei de trabalhar. Desde pequena eu trabalho, comecei com 12 anos em casas de família e depois fui bordadeira e fiz várias funções na minha cidade natal Itapajé. Mas meu sonho sempre foi ser cabeleireira, então eu passei a buscar cursos da profissão. Fiz diversos cursos para poder colocar meu sonho em prática. Então, eu já tinha esse sonho de empreender e após passar pelo que passei (Chacina do Curió) eu consegui me reerguer com ajuda do projeto Mulheres do Brasil e vou continuar empreendendo. Hoje, consegui montar um pequeno salão e o que me ajudou a me levantar foi a fé em Deus e a vontade de vencer todos os dias.
OP - Como você conheceu a n2? Como a plataforma te ajudou?
Ana Costa - Apesar de não ser egressa do sistema prisional, eu participei do projeto Vozes da Liberdade que foi realizado em parceria com o grupo Mulheres do Brasil do qual faço parte. Então durante duas semanas eu recebi acompanhamento com diversos temas diferentes. No fim do projeto, cada participante recebeu R$ 2 mil para investir no seu empreendimento. Assim, eu conheci a n2 que me orientou financeiramente falando como eu fazia para colocar esse dinheiro para girar e ter o seu lucro. Além disso, a n2 ficou à disposição de cada pessoa que recebeu essa quantia para ajudar em caso de necessidade.
OP - Quais os desafios você teve ao começar a empreender?
Ana Costa - Todos os dias é um desafio empreender. A maior dificuldade é a falta de dinheiro, ter um dinheiro para fazê-lo girar e retornar em lucro. Essa é a maior dificuldade que tenho, ganhar no mês o que dá para sobreviver praticamente. Então eu digo que é necessária muita fé e muita persistência.
OP - Qual conselhos você daria para quem quer começar a empreender?
Ana Costa - O meu conselho é: comece! E tenha muita garra e disposição, porque todo dia é um desafio novo. Também indico que a pessoa estude muito sua área de atuação para que possa passar pelas dificuldades, mas sabendo o que fazer e como resolver aquele ou esse problema que vão aparecer na vida de qualquer empreendedor.
OP - O que mudou na sua vida após empreender?
Ana Costa - Empreender para mim é um desafio e um sonho e uma meta a ser conquistada todos os dias. Não adianta só dizer: 'Ah! Eu tenho um sonho', é necessário ler, estudar, buscar é um processo doloroso, mas a gente vence no final. O empreendimento para mim é uma forma de conseguir colocar em prática um sonho e eu já consegui muitas coisas e pretendo conquistar mais. Eu penso em ter uma casa própria e estudar, ter condições de bancar novos cursos melhores para continuar crescendo e alcançar meus objetivos por meio do empreendedorismo.
OP - Você conseguiu impactar o seu entorno empreendendo?
Ana Costa - Já consegui sim, inclusive dois de meus familiares (irmão e irmã) são cabelereiros atualmente. Eu também consegui ensinar outras pessoas a cortar cabelo. Iniciei esse projeto em uma igreja que eu frequentava e hoje uma dessas mulheres que eu ensinei possui seu próprio salão e também está cursando a faculdade de esteticista. Isso é muito gratificante para mim poder ensinar e ver o 'aluno' se desenvolver até mesmo melhor do que eu.