O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que desembarcou ontem, 18, em Hiroshima como convidado da cúpula do G-7, participará de painéis para tentar frear críticas à Rússia pela guerra na Ucrânia. O Itamaraty têm buscado uma posição de neutralidade no conflito e Lula deve desempenhar um papel de contrapeso na cúpula.
A guerra na Ucrânia e seu impacto na geopolítica e economia globais são um dos principais temas do G-7. A expectativa é a de que seus membros - que em sua totalidade fornecem armas ou equipamentos de defesa à Ucrânia - emitam um comunicado ao final da cúpula endurecendo o tom contra a Rússia.
Haverá, contudo, um segundo texto, este também assinado pelos países convidados, que deverá ser negociado. O Brasil tentará convencer seus aliados a focar o documento em segurança alimentar, com menção cautelosa à guerra, sem adotar um tom crítico a Moscou.
A cúpula do G-7, composto por Japão, Itália, Canadá, França, Reino Unido, EUA e Alemanha, vai de hoje até domingo. Além do Brasil, também foram convidados Austrália, Comores, Ilhas Cook, Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Vietnã.
Agenda oficial
Entre os painéis oficiais da cúpula de Hiroshima, o petista terá uma agenda extensa, com nove reuniões bilaterais e um encontro com empresários.
Até ontem, estavam confirmados encontros com os presidentes da França, Emmanuel Macron, e do Vietnã, Vo Van Thuong. O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, é outro nome da lista de Lula.
A agenda oficial de Lula em Hiroshima começa às 17 horas de hoje (5 horas em Brasília), com um encontro com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese. Lula encerra a agenda com uma entrevista coletiva, na segunda-feira, antes de embarcar de volta para o Brasil.
EUA impõem novas sanções à Rússia na abertura do G-7
Os EUA anunciaram ontem novas sanções contra a Rússia pouco antes da abertura da cúpula do G-7, em Hiroshima, no Japão. Segundo um alto funcionário da Casa Branca, todos os membros do grupo estão preparando um novo pacote de medidas com a ajuda americana. O objetivo, segundo ele, é dificultar a renovação da "máquina de guerra" dos russos.
O anúncio com detalhes das novas sanções será divulgado hoje, 19, na abertura da cúpula. O funcionário americano, que falou sob condição de anonimato, afirmou que as medidas colocariam na lista de restrições dos EUA cerca de 70 entidades russas e de outros países envolvidas na produção de equipamentos de defesa usados pela Rússia. Seriam punidos também mais de 300 indivíduos entidades, aeronaves e embarcações.
Ucrânia
O tema dominante da cúpula de Hiroshima, no entanto, deve ser mesmo a guerra na Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, acaba de concluir uma viagem que serviu para ele obter apoio militar dos europeus. "A Ucrânia impulsionou o senso de propósito comum do G-7", disse Matthew Goodman, vice-presidente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
"O Japão ficou chocado quando dezenas de países em desenvolvimento relutaram em condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia, no ano passado", afirmou Mireya Solís, diretora do Centro de Estudos de Políticas do Leste Asiático da Brookings Institution. "O governo japonês acredita que este ato de guerra seja uma ameaça direta aos fundamentos do sistema internacional do pós-guerra."
A decisão de sediar a cúpula do G-7 em Hiroshima não foi por acaso. Os EUA lançaram uma bomba atômica sobre a cidade japonesa em 1945, matando 140 mil pessoas. O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, que é da cidade, espera que a escolha do local ressalte o compromisso do Japão com a paz e com a não proliferação.
As preocupações com a força da economia global, o aumento dos preços e a crise do limite da dívida nos EUA também estarão no topo da lista de temas discutidos no G-7. Ministros das Finanças e chefes dos Bancos Centrais, reunidos antes da cúpula, prometeram novas ações de combate a inflação, fortalecimento do sistema financeiro e de ajuda aos países endividados.
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