Em pronunciamento de cinco minutos em rede nacional, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse ontem que a revolta comandada pelo líder do grupo Wagner, Yevgueni Prigozhin falhou porque toda sociedade russa se uniu. Na primeira declaração sobre o motim, ele reiterou a promessa de oferecer aos mercenários um lugar no Exército russo ou o exílio em Belarus.
"Eles queriam que os russos lutassem entre si", disse Putin. "Eles esfregaram as mãos, sonhando em se vingar de seus fracassos. Mas eles calcularam mal", disse Putin, visivelmente irritado, agradecendo aos militares russos.
Putin disse que o motim teria sido esmagado pelas forças de segurança russas se os mercenários não tivessem concordado em interromper seu avanço a Moscou, mas também que a "grande maioria" dos combatentes era patriota.
SILÊNCIO
Momentos antes, Prigozhin também fez seus primeiros comentários desde o motim. Ele disse que a rebelião foi um protesto e negou que o objetivo fosse um golpe. A revolta, segundo ele, começou depois que militares da Rússia mataram 30 combatentes do Wagner em um ataque em um de seus acampamentos.
Prigozhin aceitou o acordo com Putin para, segundo ele, evitar processos e se mudar para a Belarus, de onde o Wagner poderia continuar suas operações. Ele não revelou seu paradeiro ou a localização de seus combatentes.
Putin e Prigozhin se mantiveram discretos desde o acordo que acabou com o motim. A exibição pública de dissidência representou o maior desafio à autoridade de Putin em mais de 20 anos. No entanto, muitas dúvidas ainda pairam sobre as consequências da revolta.
Ontem, a Rússia divulgou um vídeo do ministro da Defesa, Serguei Shoigu, pela primeira vez desde o levante, mostrando que ele permaneceu no cargo apesar das críticas de Prigozhin.
No domingo, com a crise já contornada, o canal estatal Rossia transmitiu uma entrevista com Putin, que havia sido gravada um dia antes do motim, portanto sem referência a ele. As falas do líder russo transpareceram um endurecimento do discurso em relação a Kiev, nas quais ele reiterou a confiança na vitória russa.
Ao mesmo tempo, a contraofensiva ucraniana segue com pequenos ganhos e atenta às linhas russas em busca de vulnerabilidades. A vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, disse ontem que os ucranianos recuperaram 130 quilômetros quadrados desde o início da operação.
IMPACTO
Após o motim do fim de semana, o futuro do grupo Wagner foi posto em dúvida. Por ora, esse status parece um alívio para as tropas ucranianas. Na avaliação de analistas, os militares podem capitalizar o caos e enfraquecer a moral russa para tentar obter ganhos. Ainda assim, é cedo para determinar as implicações de longo prazo da disputa entre Prigozhin e Putin, segundo os EUA.
Em Bakhmut, o Wagner foi crucial na campanha russa para dominar a cidade ucraniana, a única grande vitória de Moscou no campo de batalha este ano, e solidificou uma aliança incômoda com os militares russos, dissolvida após o fim da batalha.
Na avaliação de Rob Lee, pesquisador do Foreign Policy Research Institute, a relação até então conhecida entre o grupo Wagner e o Kremlin chegou ao fim. "Mesmo que o motim não tivesse acontecido, não se sabe se o Wagner desempenharia na guerra o mesmo papel que teve em Bakhmut."
Os combates em Bakhmut levaram a um grande número de soldados russos feridos ou mortos nos primeiros meses do ano. Os mercenários acabaram superando as defesas ucranianas e conquistaram a cidade, mas a um custo alto para Prigozhin.
MUDANÇA
O motim de Prigozhin, no sábado, pelo menos de acordo com uma análise preliminar, não fez com que nenhuma unidade russa deixasse suas posições no sul ou no leste da Ucrânia para sair em defesa de Moscou, disseram autoridades americanas. Em todos esses dias, não houve trégua na guerra. (Com agências internacionais)