Os irmãos Davi e Daniel Carneiro, de 15 e 22 anos, respectivamente, foram mortos a tiros a caminho da casa da avó, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, no dia 8 de julho. Os dois encontrariam a avó e o pai deles para um almoço em família. No percurso entre o metrô e a residência, foram abordados por integrantes de uma facção criminosa, passaram por uma série de questionamentos e tiveram os aparelhos celulares subtraídos. Em seguida foram mortos.
"Tiraram tudo o que eu tinha de mais valioso na vida", relata o pai, que não é identificado por questões de segurança. "Eu pedi a Justiça da terra e a de Deus. Eu perdoo as pessoas que fizeram isso com eles".
Meio-dia o almoço estava pronto e os meninos enviaram um vídeo de dentro do metrô afirmando que estavam chegando. A avó estava aguardando, quando escutou estampidos semelhantes aos de tiros. Ela comentou com o pai dos meninos que estava preocupada. A partir desse momento, começou uma procura que durou aproximadamente 25 minutos.
O pai ligou para os aparelhos celulares dos filhos e ambos estavam desligados. Preocupado, ele saiu de casa no automóvel e foi até o metrô, onde perguntou ao vigilante sobre os irmãos e mostrou o vídeo dos dois. O trabalhador avisou que o trem já havia chegado.
O pai relata que seguiu o trajeto que, provavelmente, os meninos poderiam ter feito para a casa da avó. No caminho, ele se deparou com viaturas e parou um dos veículos, quando ele explicou que estava a procura dos dois filhos.
"Um (policial) olhou para o outro e eu vi que havia algo errado. Eu perdi logo as forças", relembra. "Eles perguntaram as cores das blusas e foram dirigindo meu carro até o local do crime. Eu encontrei meus filhos no chão e ensanguentados, com a mochilinha".
As vítimas foram mortas no bairro Marechal Rondom. O filho mais velho, Daniel, era morador do bairro São Miguel, também em Caucaia. As investigações apontam que o fato de morar em outra área pode ter motivado o crime, conforme O POVO apurou.
Daniel trabalhava prestando serviço a uma agência bancária, estudava programação de computadores e estava juntando dinheiro para casar com a namorada, com quem estava morando junto há três anos. Davi cursava o 9º ano do ensino fundamental. Gostava de surfar, andar de skate e de gatos e cachorros.
Os irmãos se encontravam aos fins de semana para ir a praia e passear. No dia 8 de julho, quando foram assassinados, Daniel, mesmo baleado, tentou proteger o irmão dos tiros, ainda conforme O POVO apurou.
A família está abalada. O pai diz não saber para onde ir, pois teme pela própria vida, após denunciar o caso. Para a família, a guerra de facções tem destruído a vida de jovens inocentes em Caucaia e em outras localidades. A área em que os meninos estavam era considerada rival do bairro São Miguel. Outras pessoas foram mortas na mesma rua onde os meninos foram encontrados.
A família vive agora de olhar as fotografias dos dois irmãos: Davi em um evento de cultura japonesa, no Centro de Eventos, um dia antes de ser morto;os irmãos na praia; o adolescente na escola e fazendo poses de fisiculturismo. O mais velho, o Daniel, enviou um vídeo para o pai, no dia do aniversário. Na imagem ele faz uma dança e diz que o ama.
O sepultamento aconteceu na última segunda-feira, 10. Parentes vieram de outros estados e de fora do País. Os amigos de trabalho de Daniel e os amigos da escola de Davi, todos estiveram presentes.
Em nota, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) informa que segue investigando o duplo homicídio.
"O caso está a cargo do Núcleo de Homicídios da Delegacia Metropolitana de Caucaia, unidade que realiza diligências e oitivas no intuito de identificar a autoria do crime, bem como elucidar o fato. A PC-CE reitera que mais informações serão repassadas em momento oportuno para não comprometer os trabalhos policiais em andamento", diz a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
A SSPDS reforça que a população pode contribuir com as investigações repassando informações, com sigilo e anonimato garantidos.
Disque-Denúncia: 181
WhatsApp da SSPDS: (85) 3101 0181
WhatsApp da Delegacia Metropolitana de Caucaia: (85) 3101-3360