O estupro de uma criança é algo dolorido até de falar. Pensar que isso acontece dá um arrepio na espinha. Mais cruel ainda é saber que é comum. A cada hora, quatro crianças ou adolescentes são vítimas de violência sexual no Brasil, estimam entidades de proteção. Para enfrentar essa tragédia é preciso falar, mas não apenas isso. Informar a população, desenhar políticas públicas, implementar programas de proteção de grande porte.
Nossas crianças precisam de educação sexual nas escolas. É lá onde muitas das vítimas passam a entender que foram alvo de um crime, onde a maioria dos casos é compartilhado e, em seguida, investigado para responsabilização dos criminosos. Diferentemente do que moralistas hipócritas asseveram, a educação sexual não incentiva o sexo, mas protege crianças e adolescentes de serem violados.
A grande maioria dos criminosos são da própria família ou conhecidos. Pessoas em quem as vítimas confiam, obedecem. Pais, avôs, tios. Infelizmente, esse foi o caso da adolescente de 16 anos que era abusada pelo avô, com quem morava desde os 13 anos, e por dois tios em Cascavel. A garota estava longe da escola há um ano, por proibição do avô. Os três foram presos no último fim de semana e, conforme o Conselho Tutelar do município, ela está em um local seguro. Casos como o dela são recorrentes.
O Ceará registrou o semestre com maior número de crimes sexuais (estupros, estupros de vulnerável e exploração sexual de menor) desde que o dado passou a ser divulgado pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS), em 2017. Foram 1.077 vítimas entre janeiro e junho deste ano. Quase metade (512 casos) eram bebês e crianças: entre zero e 12 anos. Outras 297 tinham de 13 a 18 anos.
Quem protege essas crianças e adolescentes quando a própria família as viola? Onde estão os ministérios e secretarias para destinarem verbas e implementarem programas de prevenção? Quem são os legisladores que defendem verdadeiramente a pauta da proteção de crianças e adolescentes?