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Luizete Vicente e as histórias de luta da terra da luz
Farol

Luizete Vicente e as histórias de luta da terra da luz

Conheça Luizete Vicente, a jornalista que desenvolveu o jogo "Siará: Histórias de Luta", que apresenta 10 personalidades de negros e indígenas que mostram a amplitude do que é ser cearense
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 09-08-2023: Dois dedos de prosa com Luizete Vicente, professora da UFC que desenvolveu o jogo Siará. (Foto: Samuel Setubal) (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 09-08-2023: Dois dedos de prosa com Luizete Vicente, professora da UFC que desenvolveu o jogo Siará. (Foto: Samuel Setubal)

Falar sobre o passado é reconhecer a luta dos que vieram antes de nós e manter viva a memória daqueles que marcaram a História. Da vontade de ampliar o acesso à educação e ao conhecimento sobre lideranças pretas e indígenas do Ceará, a jornalista e ativista do movimento negro Luizete Vicente desenvolveu uma estratégia lúdica para crianças e jovens aprenderem sobre tais lideranças e tudo o que elas representam para o Estado.

Assim nasceu o jogo “Siará: Histórias de Luta”, que se constrói em dez personagens e símbolos conectados ao imaginário local. A partir das imagens, os jovens têm a oportunidade de aprender mais sobre os muitos Cearás que existem em cada uma dessas personalidades.

Ao O POVO, Luizete narra sua alegria em poder levar a história do Estado por meio da prática educativa, proporcionando a experiência do aprender por meio do brincar, e a vontade de contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e justa.

O POVO - Como surgiu a idade para elaboração do jogo?

Luizete Vicente - Quando eu criei o jogo – que eu não sabia ainda se seria um jogo de cartas ou um de tabuleiro, enfim — queria que fosse um material que eu pudesse levar para a escola para a galera brincar, para a galera curtir, e daí nasceu o jogo de cartas. Mas aí eu ainda não tinha um nome certo para o jogo. Mas a ideia era levar a história das nossas lideranças negras e indígenas para as escolas públicas para que conhecessem mais sobre estas personalidades tão importantes, e daí nasceu o jogo.

O POVO - A escrita da palavra Ceará no jogo foi "Siará". Há alguma simbologia por trás do nome?

Luizete Vicente - Tem sim! "Siará" é o nome de origem, porque anteriormente não era Ceará. Existem várias motivações para isso. Uns dizem que é uma terminologia indígena que significa "mar verde", porque o mar que banha o nosso Estado é verde, ele não é azul. José de Alencar dizia que significava "jangada". Outro estudioso dizia que era por causa do deserto do Saara, uma derivação, porque a areia daqui se assemelha à areia de lá, sendo africana neste caso. Então a terminologia nasce a partir disso, a derivação anterior para mostrar que o Ceará foi constituído já há muitos anos, muito antes de se transformar. Não importa se são derivações de uma cidade, de uma terra, de um estado, ele foi constituído por diversas populações, inclusive destas que estão no jogo.

O POVO - Qual o principal objetivo desse jogo?

Luizete Vicente - Aprender. O jogo não é uma disputa. O jogo trabalha a ideia de unir o aprender com o brincar. As cartas são divididas entre personalidades e símbolos que as representam. Aí cada um pega um personagem ou um símbolo e lê o que tem atrás da carta para adivinhar a quem aquela carta se relaciona. As cartas têm algumas dicas, para ajudar na identificação, que são as molduras. Então isso torna a experiência mais lúdica e interessante. Mas o objetivo é justamente aprender e não competir.

O POVO - Qual o impacto de mostrar essas lideranças para crianças e para o público geral?

Luizete Vicente - A partir do momento que eu coloco essas pessoas, essas lideranças, você vai buscando essas meninas e meninos pretos e filhos de indígenas e eles olham para esse material e dizem: "Tá aqui ó, eu tenho uma história". Muitos que já sabem podem fortalecer ainda mais os que não sabem, podem conhecer e para pessoas brancas também é importante conhecer porque a luta precisa ser de todos. Então fornecer o acesso a um material como esse é de extrema importância para fortalecer essas pessoas, para que elas se sintam representadas na nossa história.

O POVO - Você pretende desenvolver outros métodos educativos para falar sobre o movimento negro e o movimento indígena?

Luizete Vicente - Sobre o jogo, com a impressão dele, espero conseguir parcerias para ampliá-lo e assim trazer mais lideranças e mais símbolos que caracterizam estas lideranças. Agora, eu tenho outros projetos, tenho um livro que já está pronto e quero que ele também seja um material educativo, que agregue nas salas de aula. Agora, sobre o jogo, eu quero muito poder ampliá-lo.

O POVO - AGORA, PARA VOCÊ, COMO MILITANTE DO MOVIMENTO NEGRO, QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE JOGO PARA QUE A LUTA DE VOCÊS GANHE AINDA MAIS VISIBILIDADE?

Luizete Vicente - Eu tenho a tarefa de contribuir. Eu acredito que a gente tem poucas coisas para fazer nesse mundo, uma delas é construir coisas e assim proporcionar a partir desse lugar que nós estamos hoje, contribuir com ele desde coisas básicas que é jogar um lixo no lixo que parece uma besteira mas não é. Então, contribuir para a formação de uma sociedade um pouco mais justa é algo que eu prezo muito.

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