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Ibovespa tem melhor ano desde 2019; dólar tem maior queda anual desde 2016
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Ibovespa tem melhor ano desde 2019; dólar tem maior queda anual desde 2016

No ano, Petrobras foi o grande destaque entre as ações de maior peso e liquidez na B3. Já sobre o dólar, a queda da moeda americana no ano foi de 8,08%
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MOVIMENTAÇÃO em frente ao prédio da B3, no centro antigo de São Paulo (Foto: EDI SOUSA/ESTADÃO CONTEÚDO)
Foto: EDI SOUSA/ESTADÃO CONTEÚDO MOVIMENTAÇÃO em frente ao prédio da B3, no centro antigo de São Paulo

O Ibovespa fez uma pausa para contemplar o horizonte do topo nesta última sessão do ano, intervalo em que avançou 22,28%, no que foi o melhor desempenho do índice da B3 desde 2019, quando havia subido 31,58%. Hoje, mostrou leve ajuste negativo (-0,01%) no fechamento, aos 134.185,24 pontos, tendo superado mais uma vez a máxima histórica intradia, mas não o pico nominal de encerramento - ambas as marcas renovadas na sessão anterior, a penúltima de 2023. Nos contratos futuros, o Ibovespa havia chegado ontem a 136,1 mil, novo recorde.

A série de quebras de máximas observada neste fim de ano foi iniciada em 14 de dezembro - desde então, o índice à vista registrou apenas três perdas diárias, no agregado de 10 sessões, incluindo a de hoje. A pausa nesta conclusão de ano veio após o Ibovespa ter pulverizado recordes intradia e de fechamento que estavam em vigor desde 7 de junho de 2021. De 21 de dezembro para cá, primeiro aos 132 mil e agora aos 134 mil pontos, foram quatro fechamentos consecutivos em máximas históricas.

Nesta quinta-feira, o Ibovespa oscilou dos 133.832,26 aos 134 391,67 pontos, saindo de abertura aos 134.193,59. Como ontem, o giro financeiro permaneceu enfraquecido, mas ganhou algum fôlego perto do fim, a R$ 17,3 bilhões. Em dezembro, o índice da B3 acumulou ganho de 5,38%, após avanço de 12,54% em novembro. Assim, o último bimestre foi essencial para a alta do Ibovespa em 2023, após ter encerrado outubro acumulando discreto ganho de 3,11%, convergindo então para níveis do começo de junho.

Desde o fim de outubro, a recuperação do Ibovespa correspondeu a 21 mil pontos, ou 18,59% nos dois últimos meses do ano. No quarto trimestre, o ganho do Ibovespa foi a 15,11%, após ter cedido 1,28% no trimestre anterior, de julho a setembro. No primeiro semestre, o Ibovespa havia subido 7,61%, com o ganho na segunda metade do ano avançando para 13,63%.

Assim, no quarto trimestre de 2023, o Ibovespa registrou desempenho semelhante ao do segundo trimestre do ano, quando havia avançado 15,9% após tombo de 7,16% no trimestre inaugural de Lula 3 - no que foi o pior janeiro-março desde 2020, o ano da pandemia. Desde então, as dúvidas sobre a situação fiscal em um governo inclinado a gastos públicos foi dando lugar, gradualmente, a uma recuperação de confiança dos investidores, desde a aprovação do arcabouço fiscal, mais cedo no ano, até a promulgação da reforma tributária, no fechamento de 2023.

"O ano está terminando para a Bolsa de forma muito mais positiva do que se antecipava, com um rali em dezembro fortalecido pelas indicações do Fed sobre os juros americanos. Nesta reta final, tivemos um enfraquecimento agudo do volume diário, que tem correspondido a quase um terço da média móvel do último mês, mas se trata de uma queda natural para a época do ano", diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.

Se, no plano doméstico, o arrefecimento da inflação e os cortes da Selic contribuíram também para a retomada do apetite por ações, do exterior veio, em dezembro, a sinalização suavizada do Federal Reserve para a taxa de juros de referência dos Estados Unidos, o que foi decisivo para que os juros de mercado americano - os rendimentos dos Treasuries - viessem mais abaixo, após o salto a 5% observado nos yields de 10 anos observado no fim de outubro. Hoje, o rendimento dos títulos americanos de 10 anos está em 3,84%.

Assim, o dólar à vista se acomodou a R$ 4,85 neste fechamento de ano, em queda de 8% ao longo de 2023, a maior baixa em sete anos Tal ajuste refletiu tanto a relativa melhora da percepção fiscal doméstica como a redução dos custos de crédito lá fora - combinação que contribuiu para aumento de fluxo de recursos estrangeiros para a Bolsa a partir de novembro, com o fechamento na curva de juros futuros. Dessa forma, o Ibovespa, na moeda americana, encerra 2023 aos 27.647,67 pontos.

Em dólar, o Ibovespa havia terminado novembro a 25.905,58 pontos, superando o ponto mais alto do ano, no fim de julho, então a 25.783,48 pontos, e também o ponto mais forte, em junho de 2021 (25.496,99), do período de recuperação iniciado em março daquele ano, ainda no contexto da pandemia. Com o prosseguimento da recuperação em dezembro de 2023, o índice da B3 supera agora o nível em que se encontrava em janeiro de 2020, aos 26.548,55 pontos no fim daquele mês, quando a covid-19 ainda se insinuava como um fator de preocupação global.

Nesta última sessão de 2023, a leitura acima do esperado para a prévia da inflação oficial do mês contribuiu para a cautela observada na B3, em altura do ano em que muitos investidores optam por permanecer à margem, sem mover as carteiras. De acordo com dados divulgados hoje pelo IBGE, o IPCA-15 avançou para 0,40% em dezembro, após leitura a 0,33% no mês anterior.

O resultado veio acima da mediana de estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast, bem como do teto - respectivamente, de 0,25% e 0,35% para o mês. O avanço da inflação em dezembro, ainda que venha a se mostrar pontual, contribui para reforçar a percepção de que a barra para o Copom acentuar o ritmo de cortes da Selic em 2024 permanece elevada - com reflexo na curva de juros doméstica, na sessão.

"O mercado já havia aberto com tendência a realizar lucros, após toda a alta que se viu em dezembro, mês em que a Bolsa andou bastante. Dados sobre a economia americana chegaram a reforçar o otimismo dos investidores também na B3, com Nova York oscilando a partir de então para o positivo, e ajudando aqui em parte da tarde, sem conseguir evitar, no fim, esse fechamento bem perto do zero a zero", diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.

Em Nova York, Dow Jones subiu 0,14%, S&P 500, 0,04%, e o Nasdaq cedeu 0,03% nesta quinta-feira. Na semana, os ganhos em NY ficaram entre 0,60% (S&P 500) e 0,87% (Dow Jones), enquanto o Ibovespa avançou 1,08% no intervalo, estendendo ganhos de 1,96% e de 2,44% nas duas semanas anteriores.

Na B3, as ações de grandes bancos subiram moderadamente nesta quinta-feira, com BB (ON +0,97%, máxima do dia no fechamento) e Santander (Unit +0,69%, também no pico da sessão no encerramento) à frente. O dia foi de ajustes discretos para os carros-chefes das commodities, com Vale ON em baixa de 0,26% no encerramento, negativo também para Petrobras (ON -0,41%, PN -0,32%), em leve ajuste se comparado ao do petróleo na sessão - em queda acima de 3% para o WTI e o Brent, com os dados semanais de estoques nos EUA em retração maior do que a prevista para o intervalo.

No ano, Petrobras foi o grande destaque entre as ações de maior peso e liquidez na B3, com a ON em alta de 73,09% e a PN, de 93,45%, no período.

Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, destaque para CVC (-12,72%), Locaweb (-4,60%) e Magazine Luiza (-4,00%). No lado oposto nesta quinta-feira, Cemig (+1,95%), MRV (+1,91%) e Taesa (+1,64%).

Dólar

Em linha com o mercado internacional, o dólar teve nesta quinta-feira, 28, última sessão de 2023, mais um dia de alta frente ao real, fechando aos R$ 4,8534, valorização de 0,43%. A semana termina assim acumulando desvalorização de 0,17%, o que leva a queda da moeda americana no ano para 8,08%. Foi o melhor ano para o real desde 2016, quando o tombo do dólar foi de 17,88%.

Nesta quinta-feira, o comportamento do câmbio teve a influência, até o início da tarde, da disputa técnica pela formação da última taxa Ptax de 2023: R$ 4,8413, o que corresponde a uma queda de 1,91% em dezembro e de 7,21% no ano.

Passada esta pressão, o cenário externo acabou prevalecendo. No mercado internacional, após dias perdendo valor por causa da expectativa de que os juros nos Estados Unidos aproximam-se do início de um ciclo de baixa, o dólar passou por um ajuste. O impulso veio da alta dos Treasuries, com os títulos de dois e dez anos renovando máximas.

Dessa forma, o real devolveu parte dos ganhos dos últimos dias, chegando a bater nos R$ 4,8710 na máxima do pregão.

Sofreram mais as moedas de mercados exportadores de commodities. Os investidores reagiram a mais uma sessão de queda do petróleo, cuja desvalorização foi superior a 3% no contrato do WTI para fevereiro. Na China, queda também, de 1,33%, na cotação do minério de ferro, um dos três principais produtos exportados pelo Brasil.

Aliás, a robusta balança comercial brasileira foi um dos motivos a ancorar a cotação do real em 2023. Até a primeira quinzena de dezembro, o saldo positivo no ano era de US$ 94,179 bilhões, com apoio da supersafra agrícola.

"O aumento maciço do excedente comercial transformará o Brasil, a médio prazo, numa anomalia latino-americana: um país com excedente em conta corrente. O Brasil um dia será a Suíça da América Latina", escreveu o economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Robin Brooks, em publicação no X, antigo Twitter.

Outro fator apontado por economistas é a atratividade da renda fixa local, a despeito do processo de redução de juros pelo Banco Central. Hoje, o IBGE informou que o IPCA-15 acelerou a 0,40% em dezembro, ante consenso de 0,25%. O dado inibiu apostas, no mercado de juros, de maior intensidade da queda da Selic.

Juros

Apesar do avanço mais expressivo do dólar e das taxas dos Treasuries ao longo da tarde, os juros futuros diminuíram o ritmo de alta na segunda etapa de negócios, afastando-se das máximas vistas pela manhã, quando investidores absorveram a leitura acima do esperado do IPCA-15 de dezembro. Dados de geração de vagas formais de emprego em novembro revelados pelo Caged à tarde não tiveram impacto relevante na formação das taxas. Medidas anunciadas ainda pela manhã pelo ministério da Fazenda para recomposição de receitas perdidas com desoneração da folha de pagamentos já haviam sido absorvidas sem sobressaltos.

Com máxima a 10,075%, DI para janeiro de 2025 fechou a 10,03%, ante 9,99% na sessão anterior. O DI para janeiro de 2027 subiu de 9,635% para 9,72%. E DI para janeiro de 2029, que tocou 10,11%, terminou em 10,07%, ante 9,996% no ajuste anterior.

As taxas apresentaram entre 20 e 50 pontos-base de redução ante o fechamento de novembro. Em 2023, a curva a termo mostrou um alívio geral de mais de 250 pontos-base. Parte expressiva da queima de prêmios é atribuída ao desafogo no ambiente externo no último trimestre, quando a inflação deu sinais de arrefecimento nos EUA e investidores passaram a vislumbrar o início de um processo de corte da taxa básica americana pelo Federal Reserve no primeiro semestre de 2024.

Fatores internos, contudo, também contribuíram para a redução das taxas futuras neste ano. Houve aprovação do novo arcabouço fiscal, em substituição ao teto de gastos, o que eliminou, nas palavras do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o chamado "risco de cauda" das contas públicas - ou seja, a perspectiva de uma trajetória explosiva de endividamento. Esse quadro ensejou elevação da nota de crédito brasileira por agências de classificação de risco como Fitch e S&P, embora o País ainda esteja longe de recuperar o grau de investimento. A reforma tributária passou no Congresso, após três décadas de espera.

Com a nova regra fiscal e a apreciação do real, as expectativas de inflação de longo prazo caíram e os índices correntes apresentaram desaceleração, o que abriu espaço para o Banco Central iniciar um processo de corte de juros. Embora tenha provocado alta dos DIs, a leitura do IPCA-15 de dezembro hoje cedo não desmontou as apostas de mais cortes seguidos da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual e taxa terminal próxima de 9%. Houve, contudo, diminuição das apostas de que o BC pudesse acelerar o passo no primeiro trimestre de 2024, com uma redução da taxa básica em 0,75 ponto porcentual.

O IPCA-15 acelerou de 0,33% em novembro para 0,40% em dezembro, superando o teto da estimativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast (0,35%). A mediana era de 0,25%. Com o resultado anunciado hoje, o IPCA-15 acumulou um aumento de 4,72% no ano de 2023, pouco aquém do teto da meta, de 4,75%, também superando as expectativas.

A despeito da percepção de deterioração do qualitativo do IPCA-15, a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, afirma que o cenário de arrefecimento da inflação não foi alterado. "Não muda o plano de voo do Banco Central. O que pode acontecer é o mercado deixar de lado o debate em torno de uma aceleração do ritmo de corte dos juros", diz Veronese, que estima Selic em 9,75% no fim de 2024, mas a projeção tem viés de baixa.

Após o IPCA-15 de dezembro, a equipe econômica da Warren Investimentos elevou a projeção para a taxa de inflação fechada deste mês. A estimativa para o IPCA de dezembro subiu de 0,35% para 0,45%, com a inflação fechando o ano em 4,51%, dentro do intervalo da meta. Em 2021 e 2022, o IPCA superou o teto da meta, o que obrigou o Banco Central a divulgar carta aberta com explicações para a arrancada da inflação.

Depois da redução queda de prêmios neste ano, analistas veem alguns entraves para uma baixa acentuada dos DIs nos próximos meses. Além de inflação corrente menor e convergência das expectativas para a meta (3%), há necessidade de progresso no front fiscal, com cumprimento dos objetivos estabelecidos no novo arcabouço. Economistas veem com ceticismo a possibilidade de o governo entregar déficit primário zero em 2024 mesmo com aprovação de medidas para ampliação das receitas.

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