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Morre ex-presidente que levou centro-direita ao poder no Chile
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Morre ex-presidente que levou centro-direita ao poder no Chile

O próprio Piñera pilotava o helicóptero, um modelo Robinson R66
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EX-PRESIDENTE pilotava o helicóptero (Foto: Ludovic MARIN/AFP)
Foto: Ludovic MARIN/AFP EX-PRESIDENTE pilotava o helicóptero


 O ex-presidente chileno Sebastián Piñera morreu ontem aos 74 anos na queda de um helicóptero na região de Lago Ranco, sul do Chile. Ele estava de férias e tinha ido almoçar na casa de um amigo, o empresário José Cox. O governo de Gabriel Boric decretou três dias de luto. Piñera será velado a partir de amanhã na sede do Congresso, em Santiago.

O próprio Piñera pilotava o helicóptero, um modelo Robinson R66. Segundo autoridades, chovia no momento do acidente. A aeronave decolou às 15 horas (mesmo horário de Brasília) com outras três pessoas a bordo, mas voou apenas alguns minutos, entrando em pane acima do lago.

Os três passageiros conseguiram se desvencilhar dos cintos e pular na água, sendo resgatados por lanchas da Marinha. Piñera foi arrastado para o Lago Ranco, a 40 metros de profundidade, e seu corpo foi recuperado por mergulhadores dos Bombeiros.

TRAJETÓRIA

"Foi um democrata", declarou o esquerdista Boric, atual presidente e adversário político de Piñera, o maior nome de centro-direita chilena, que em 2010 encerrou 20 anos de governo da coalizão de esquerda e tornou-se o primeiro presidente conservador após o fim da ditadura de Augusto Pinochet.

Piñera foi presidente por dois mandatos (2010-2014 e 2018-2022). Antes, ele havia sido senador, entre 1990 e 1998, e candidato presidencial derrotado por Michelle Bachelet, em 2005. O ex-presidente era filho de uma família de classe média de Santiago. Seu pai, José Piñera Carvallo, era membro do Partido Democrata Cristão (PDC) e ex-embaixador na Bélgica e na ONU.

BILIONÁRIO

Doutor em economia pela Universidade Harvard, Piñera trabalhou na área de consultoria e no setor bancário. Fundou a empresa Bancard, que levou as bandeiras de cartão de crédito Visa e Mastercard para o Chile, se tornando um bilionário. Como empresário, tinha participações em importante empresas, incluindo a LanChile (hoje Latam) e a sociedade Blanco y Negro, controladora do Colo-Colo, time de futebol mais popular do país

Seu primeiro mandato começou com um terremoto de magnitude 8,8 registrado no Chile menos de duas semanas antes de ele assumir o cargo, deixando mais de 700 mortos. A cerimônia de posse, em 11 de março, foi marcada por dois fortes abalos secundários.

Em agosto de 2010, 33 mineiros ficaram presos no desabamento de uma mina em Copiapó, norte do país. Após serem resgatados, 69 dias depois, a popularidade de Piñera disparou. O crescimento econômico também foi uma marca do primeiro mandato, apesar dos protestos estudantis, de maio de 2011, que exigiam a reforma do sistema de educação pública.

VOLTA

Impedido pela Constituição de disputar a reeleição, ele deixou o cargo em 2014, sendo sucedido por Bachelet. Ele retornou em 2018, após vencer nas urnas o senador Alejandro Guillier. Seu segundo mandato foi marcado pelo tumulto social que agitou a sociedade chilena, a partir de outubro de 2019, quando manifestantes foram às ruas protestar contra o aumento da tarifa do metrô de Santiago.

Conhecido como o "estallido social", em pouco tempo, os protestos cresceram e se espalharam para várias regiões. Os manifestantes ampliaram seu foco para questões como desigualdade e demandas por salários mais altos, além de reformas nos sistemas de educação, saúde e previdência, juntamente com uma nova Constituição.

À medida que se espalhavam, os protestos se tornavam violentos e enfrentavam uma resposta policial brutal. Piñera declarou estado de exceção em diversas regiões, enviou o Exército às ruas e, pela primeira vez desde o fim da ditadura, decretou um toque de recolher em Santiago. No fim de novembro de 2019, 20 manifestantes haviam sido mortos e mais de 2 mil ficaram feridos

PANDEMIA

Em decorrência do levante, Piñera aceitou a elaboração de uma nova Constituição. Um referendo foi agendado para abril de 2020, mas o fervor das ruas foi afetado pela pandemia de covid-19 - a votação foi remarcada e só ocorreu em outubro daquele ano. No fim, os chilenos apoiaram a criação de uma nova Constituição, mas o projeto segue em discussão até hoje.

Na reta final do último governo, em 2021, Piñera sofreu um impeachment na Câmara dos Deputados, acusado de ligação com a venda da mineradora Dominga, nas Ilhas Virgens, um paraíso fiscal, revelada no escândalo Pandora Papers. Posteriormente, porém, o Senado rejeitou o processo. (Com agências internacionais)

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