Israel aprovou nesta terça-feira (26) um cessar-fogo com o Hezbollah no Líbano, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que seu governo poderá assim se concentrar nas tensões com o Irã e na guerra com o Hamas em Gaza.
O cessar-fogo, promovido pelos Estados Unidos e pela França, deve pôr fim a mais de um ano de disparos transfronteiriços e dois meses de guerra aberta entre Israel e o poderoso movimento libanês, armado e respaldado pelo Irã.
Netanyahu conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e agradeceu "seu envolvimento" para que um acordo fosse alcançado, informou o gabinete do primeiro-ministro israelense.
Biden, por sua vez, celebrou a "boa notícia" e indicou que a trégua começará na quarta-feira às 04h00 locais (23h00 de terça-feira em Brasília), no dia seguinte a violentos bombardeios israelenses em Beirute, a capital libanesa.
A trégua entre Israel e o Hezbollah representa um "passo fundamental" para a estabilidade regional, reagiu o primeiro-ministro libanês, Nayib Mikati.
Além da guerra no Líbano, Israel combate o Hamas na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023, após o ataque do movimento islamista palestino no sul de seu território.
Tanto o Hamas quanto o Hezbollah são apoiados pelo Irã, que disparou diversos mísseis e drones contra Israel desde o início do conflito em Gaza. A maioria dos projéteis foi interceptada por Israel ou seus aliados.
Uma trégua no Líbano permitirá a Israel "se concentrar na ameaça iraniana" e intensificar a "pressão" sobre o Hamas, afirmou Netanyahu em um discurso televisionado.
A duração do cessar-fogo, precisou, dependerá "do que acontecer no Líbano", e Israel manterá, "em total acordo com os Estados Unidos", uma "liberdade de ação total" no país.
"Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se rearmar, atacaremos", ressaltou.
Israel lançou uma campanha de bombardeios contra os redutos do Hezbollah no Líbano em 23 de setembro e uma operação terrestre no sul do país uma semana depois.
- Garantir o cumprimento do acordo -
O objetivo de Israel era neutralizar o Hezbollah no sul do Líbano para proteger sua fronteira e permitir o retorno de 60 mil residentes deslocados.
O acordo de trégua "protegerá" Israel da "ameaça" do grupo xiita, afirmaram os presidentes dos Estados Unidos e da França, Joe Biden e Emmanuel Macron, em um comunicado conjunto.
Ambos os países "trabalharão junto a Israel e ao Líbano para garantir o cumprimento integral deste acordo", acrescentaram. Também "seguem decididos a garantir que este conflito não provoque um novo ciclo de violência".
Segundo o site americano Axios, o acordo negociado nos últimos dias prevê uma trégua de 60 dias. Durante esse tempo, o Hezbollah e o Exército israelense se retirariam do sul do Líbano para permitir que as tropas libanesas se desloquem para a zona.
Após o anúncio de uma trégua, o primeiro-ministro libanês indicou que seu governo se comprometia a "reforçar a presença do exército no sul do país".
O plano de cessar-fogo inclui a criação de um comitê internacional para supervisionar sua implementação, e os Estados Unidos teriam prometido apoiar ações militares israelenses em caso de atos hostis do Hezbollah, acrescentou o Axios.
A mediação baseia-se na resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que encerrou a guerra anterior entre Israel e o Hezbollah em 2006 e estipula que apenas o Exército libanês e as forças de paz podem ser posicionados na fronteira sul do Líbano.
O ministro de Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, chamou o acordo de trégua de "erro histórico".
"Este acordo não cumpre o objetivo da guerra: permitir que os habitantes do norte voltem para casa com total segurança", reagiu o político de extrema-direita, membro do gabinete de segurança israelense.
- Bombardeios no Líbano e em Gaza -
O anúncio da trégua ocorre após um dia de intensos bombardeios israelenses no centro de Beirute, onde morreram pelo menos 10 pessoas, segundo as autoridades libanesas. Também foram registrados bombardeios na periferia sul da capital, um reduto do Hezbollah.
Um deputado afiliado ao movimento islamista libanês, Amin Sherri, acusou Israel de querer "se vingar dos libaneses" justamente antes de uma possível trégua.
O Exército israelense afirmou que mais de 20 projéteis foram disparados nesta terça-feira do Líbano contra Israel.
Segundo o Ministério da Saúde libanês, quase 3.800 pessoas morreram no país desde outubro de 2023. As hostilidades também deslocaram cerca de 900 mil pessoas, segundo a ONU. Do lado israelense, morreram 47 civis e 82 militares em 13 meses.
O Exército israelense continua seus ataques contra a sitiada Faixa de Gaza, onde pelo menos 22 pessoas morreram nesta terça-feira, segundo a Defesa Civil.
A guerra eclodiu após o ataque sem precedentes lançado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que matou 1.207 pessoas, na maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais, incluindo os reféns mortos ou em cativeiro.
A ofensiva israelense lançada em represália em Gaza deixou pelo menos 44.249 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pela ONU.