Desde outubro de 2023, Luzia Roberto da Silva, 74, aguarda a realização de uma cirurgia eletiva no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). A idosa tem uma condição chamada bócio mergulhante, quando a glândula tireóide aumenta tanto de tamanho que invade o tórax.
A remoção cirúrgica é necessária para melhorar a qualidade de vida de Luzia, que lida com dificuldades para falar e engolir devido a compressão da glândula na garganta. A família reclama da demora para marcação do procedimento.
Depois de mais de um ano de espera, em novembro de 2024 a cirurgia finalmente chegou a ser marcada. No entanto, horas depois, no mesmo dia, o procedimento foi desmarcado sem explicações.
“Eu até brinquei que alegria de pobre dura pouco”, afirma o genro de Luzia, Daniel da Costa Melo, 42. A família chegou a comemorar a marcação, mas logo precisou comunicar à idosa que o procedimento voltou a não ter data para acontecer. “Foi o cúmulo, um dia triste”, diz o genro.
A filha da paciente, Patrícia da Silva, 48, explica que a demora afeta o psicológico da mãe. “Tem dias que ela chora muito. Não está se alimentando bem, está bem mais magra. Quando vai comer sente desconforto e sai da mesa”, relata.
Desde que começou a buscar a cirurgia no HGF, Luzia já passou por quatro médicos. Todos indicaram o procedimento. A família precisou se deslocar de Caucaia para o bairro Papicu, onde é localizado o hospital, para diversas consultas realizadas em outubro e novembro de 2023, abril, julho, agosto e setembro de 2024.
Em todas, um prazo foi dado para a marcação do procedimento. A idosa chegou a fazer exames pré-operatórios — alguns pagos na rede particular em um esforço da família para agilizar o processo — e preencher uma Autorização de Internação Hospitalar (AIH).
No entanto, nenhuma das datas indicadas foi cumprida. Os familiares temem que os exames passem da validade e seja necessário realizar novos testes pré-cirúrgicos.
Eles contam que a falta de clareza quando perguntam sobre a marcação é outro aspecto que aumenta a frustração. “Não tem resposta, o silêncio deles é absoluto”, diz Daniel.
Uma das justificativas dadas à paciente é a dificuldade de conciliar a agenda dos cirurgiões especialistas em cabeça e pescoço e em tórax.
Em julho de 2024, 113 pessoas estavam na fila para cirurgias de tireóide na unidade, conforme o HGF. O POVO questionou quantos pacientes aguardam pelo procedimento atualmente, mas não obteve resposta.
A reportagem perguntou também se há previsão para a marcação da cirurgia de Luzia, por que ocorre a demora, o que atrasa a fila desse tipo de procedimento e se há possibilidade de regulação para outro hospital da rede pública do Ceará.
O hospital respondeu que a paciente “é avaliada por equipes multidisciplinares da unidade" e foi marcada uma consulta pré-cirurgica para o dia 10 de abril, após o contato do O POVO. O procedimento foi pré-agendado para o dia 15 de maio.