BETS Aos 26 anos, a influenciadora Virgínia Fonseca embalou os senadores na CPI das bets como se fossem bebês "reborn" recém-comprados, a pele lisinha de silicone e os cabelos implantados ao custo de uns milhares de reais. De visual despojado, a jovem platinada saiu-se como costumeiramente se sai nos vídeos promocionais nos quais encena uma autoconfiança que emana de si como uma aura inabalável. Foi isso que encantou e assustou aquele Congresso apalermado diante da novidade que era uma precoce milionária e seu mundo de transações impalpável sobre os quais eles não tinham tanta informação. Virgínia sabia que eles sabiam que ela sabia muito sobre jogos de apostas online, as chamadas bets, mas ou não estavam realmente interessados ou preparados ou ambos para inquiri-la a sério sobre o nó central do problema do vício, qual seja: qual era a verdadeira extensão da participação de profissionais como ela, hábeis na manipulação da autoimagem, na comercialização em larga escala da farsa do enriquecimento fácil? Era para isso que a empresária havia sido convocada a testemunhar na CPI. O que se viu, no entanto, foi um show de prestidigitação, isto é, uma ilusionista mesmerizando uma plateia que, por ofício, deveria trabalhar sempre com a suspensão da credulidade. Afinal, aos parlamentares cabia destramar esse esquema que lesou milhões de famílias e corroeu orçamentos domésticos, enquanto Virgínia e outros de sua cepa fingiam que tudo aquilo era muito ético e moral, algo como fazer propaganda de barra de chocolate. Não foi, contudo, o que aconteceu. Na prática, como todos puderam acompanhar em tempo real, a audiência se converteu em parte do truque, que é fazer passar por legal o ilegal, por certo o errado e por normal o anormal. E a depoente logrou sucesso nisso sem dificuldade, salvo ou um outro contratempo, instantes nos quais deixou o elástico da máscara escorregar, para logo em seguida ajustá-lo. Daí que a CPI, que começou como das bets, tenha sido rebatizada nas redes sociais como das "bests", numa mostra de que o país da cordialidade "buarquiana" está sempre renascendo.