A gestora ambiental e técnica agrícola Jeruza Magalhães e a química, professora de capacitação de recursos humanos, Amélia Ramos, também cuidam da diversidade verde da Horta do Pici. Elas estavam plantando a batata de purga — Operculina macrocarpa — usada na "pílula do mato", conhecida pelo efeito laxante e de "limpeza do sangue".
"Ainda não temos estudos científicos sobre ela, falta muito o que fazer pela Farmácia Viva na ciência. A pílula do mato é famosa, mas a origem se perdeu. Muitas dessas plantas são altamente tóxicas, como a cabacinha (Luffa operculata), e exigem cuidado e dosagem correta", explica Amélia Ramos.
Para Jeruza Magalhães, nem tudo que é natural é inofensivo. Um chá, por exemplo, não é só "água com açúcar". Na infusão ou decocção, você extrai substâncias químicas da planta com efeito farmacológico.
"Quando trabalhamos com a comunidade, usamos os sentidos — cheiro, cor, sabor — para entender princípios ativos e como as plantas funcionam. Algumas são tóxicas. Planta medicinal é medicamento, quando usada corretamente. Aqui mesmo temos a espirradeira, altamente tóxica", alerta.
Amélia Ramos revelava sua paixão por plantas, e os 13 anos que trabalhou com o professor Matos. "Ele dizia que quando a gente não conhece elas, tudo é mato. Mas quando conhece, vira farmácia. A gente aprende a preservar. A integração da medicina tradicional com as plantas são fundamentais", enxerga.
Mary Anne, que também estava presente na conversa, fez uma reflexão sobre a cannabis, planta com alto teor medicinal e com cultivo proibido por lei no Brasil e permitido somente com habeas corpus. Para ela, é uma questão delicada, mas importante.
"Não fazemos cultivo, mas defendemos que cada estado tenha seu horto-matriz, com apoio das secretarias de saúde e segurança.