"A planta do lugar para o povo daquele lugar", foi com esse lema que o cearense Francisco José de Abreu Matos (1924 - 2008), farmacêutico-químico, pesquisador e professor, pautou toda sua carreira científica, reconhecida e valorizada internacionalmente.
Também um dos fundadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), ele foi idealizador do Programa Farmácias Vivas, projeto que serviu de modelo para a criação, pelo Ministério da Saúde, da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, adotada pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
As Farmácias Vivas incentivam o uso adequado de plantas e seus extratos com respaldo científico, visando tratar várias doenças. O legado de Abreu é fruto de 40 anos de pesquisa pelo sertão nordestino, coletando e catalogando informações sobre as plantas medicinais que já faziam parte da região.
Ele foi membro da Academia Nacional Cearense de Ciência, da Academia Cearense de Farmacêuticos e da Academia Nacional de Farmácia da França, além de outras. Foram mais de 20 livros publicados, e a espécie Croton regelianus var. matosii recebeu esse nome em sua homenagem.
Hoje, a UFC conta com um Horto de Plantas Medicinais, localizado no campus do Pici, constituído de 139 espécies com certificação botânica, cultivadas em canteiros, covas individuais, cercas ou caramanchões. Quem coordena o espaço, e o programa Farmácias Vivas, é Mary Anne Bandeira
Ela, que para além de farmacêutica, professora e presidente da Associação Brasileira de Farmácias Vivas, é também uma grande admiradora e provedora desse legado. "Me tornei discípula. Quando ele faleceu, a família e a universidade me procuraram. E assumi a coordenação do projeto", relembrou enquanto mostrava o acervo, repleto de arquivos que contava toda essa trajetória.