"O tênis de mesa é a coisa mais maravilhosa da minha vida. Eu já sofri, mas hoje nem lembro que tenho doença", diz Lita enquanto distribui bom humor e valoriza as cores quentes da academia. O laranja lhe traz felicidade.
É ela quem puxa conversa, cobra presença, incentiva os novatos e joga em ritmo fervoroso: "Eles dizem que eu sou muito violenta jogando, mas se for devagarzinho, eu não tenho nem vontade de jogar. Sou competitiva, se eu jogo é para valer. Eu sou assim, aperreada. Isso não é valentia, é vontade de querer mais", descreve.
O mesmo espírito atravessa a fala de Vera Lúcia, 71, que chegou sem qualquer histórico esportivo. "Eu nunca gostei de esporte, mas quando eu vi o ping-pong, me lembrei de quando era menina. A gente brincava muito, usava a mesa de cozinha da mamãe. Aí eu me animei. Recentemente, machuquei o ombro e pensei: 'Se eu tiver que parar de jogar, o que será de mim?' Fiquei em pânico".
"Essa turma aqui é maravilhosa. Primeiro de tudo: tem uma aceitação, uma abertura para qualquer tipo de pessoa que queira aprender. Qualquer coisa é motivo pra riso", segue Vera.
Foi esse ambiente leve que ela fez questão de apresentar também ao sobrinho Samuel, que é autista. "Vi que o ping-pong tinha todos os requisitos que ele precisava trabalhar. Fiquei em cima dos pais até inscreverem ele. Não quer largar por nada".
Na voz de Lita, o tênis de mesa também tem lugar de recomeço: "Eu já passei mais de um ano sem sair de casa. Ele me deu ânimo de volta. Nosso horário é 9h30min. Eu chego às 8 horas e sempre fico mais tempo".
Fala com brilho nos olhos e sem filtro: "Me perguntam: 'você não cansa?'. Não, de jeito nenhum. Eu venho e me sinto uma cocota, bem novinha". A leveza não apaga os desafios. Vera diz que o tremor volta se o remédio atrasa e tem atenção redobrada ao caminhar, por temor de sofrer quedas pelo desequilíbrio.