O humorista Léo Lins e o MC Poze do Rodo têm mais em comum do que a multidão que os aplaude, Léo em casas de shows e Poze na porta do presídio. Longe de qualquer sanha punitivista, é preciso estabelecer que ambos figuram na mira da Justiça por fundada suspeita de crimes cuja apuração não deve encontrar obstáculo numa presumida liberdade de expressão.
Lins é autor de "piadas" ofensivas contra toda sorte de minorias. Um exemplo: "Se for abusar de uma criança, abuse do próprio filho. Ele vai fazer o quê, contar pro pai?". Mas há também ataques contra pessoas gordas, negras, nordestinas, gays, ou seja, seu alvo é vulnerável, situando-se numa escala que o torna presa fácil. Jamais é o poderoso, o que acaba por revelar que o pretenso artista atua numa região de conforto político e moral, embora se apresente como alguém que perturba os padrões da sociedade.
Nada disso, contudo, importa para efeito de condenação. O que vem ao caso é o seguinte: o humor não é um gênero inimputável, nem os humoristas são uma categoria sobre a qual não recai responsabilidade jurídica.
Já Poze do Rodo se ressente de perseguição por ser músico e favelado, a despeito dos indícios de apologia ao crime e de lavagem de dinheiro do tráfico que pesam contra ele. Num país de abismos, a população negra de fato vive à sombra do sistema policial. É o caso do MC? É o que as autoridades estão tentando investigar.
Em resumo: nem Lins é mártir das liberdades individuais, nem Poze dos direitos de comunidades pobres.