A operação policial deflagrada no último dia 31 de maio na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), trouxe de volta à tona as acusações de envolvimento de facções criminosas nas eleições municipais de 2024 no Ceará. Já se sabia amplamente sobre a atuação do Comando Vermelho (CV) no pleito de Santa Quitéria, município do Sertão dos Crateús, tanto que o beneficiado, o prefeito reeleito José Braga Barrozo, o Braguinha (PSB), foi cassado pela Justiça eleitoral. A novidade foi a divulgação, por parte do Ministério Público Estadual (MPCE), da informação de que o CV teria recebido R$ 1,5 milhão para coagir e ameaçar os eleitores do candidato adversário de Braguinha.
Também já se sabia que o principal responsável por essa interferência criminosa, Anastácio Paiva Pereira, o “Doze”, se esconde na Rocinha. Em dezembro, uma operação já havia sido deflagrada na comunidade para prendê-lo, mas ele conseguiu escapar, assim como no último dia 31. Esses insucessos escancaram a complexidade que é a questão da segurança pública no Rio de Janeiro, com seus verdadeiros feudos que tornam mais cômoda a vida de fugitivos como Doze. Atualmente, estima-se que entre 80 e 100 foragidos do Ceará estão em comunidades cariocas, incluindo Carlos Mateus da Silva Alencar, o Skidum, chefe do CV do Grande Pirambu.
A estadia dos criminosos cearenses no Rio não só permite ordens de assassinatos e mesmo chacinas, como ainda promove uma espécie de intercâmbio de práticas criminosas, como se viu nos casos de extorsão a provedores de internet. Há ainda o estabelecimento de verdadeiras networks, que intensificam o tráfico de armas e drogas para o Estado. Ou seja, o problema das comunidades cariocas há muito tempo deixou de afetar apenas os moradores de lá. É preciso que os estados e, sobretudo, o Governo Federal abordem a problemática com a urgência que ela merece.