Logo O POVO+
Do Marrocos para Fortaleza: conheça a trajetória do maratonista Jamal Soufane
Farol

Do Marrocos para Fortaleza: conheça a trajetória do maratonista Jamal Soufane

Radicado no Ceará, maratonista marroquino representa o Brasil em competições internacionais
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Jamal Soufane na Maratona de Boston 2025 (Foto: Carlos Fernandes/ @rolanaorla)
Foto: Carlos Fernandes/ @rolanaorla Jamal Soufane na Maratona de Boston 2025

Um dos esportes mais acessíveis para se praticar, a corrida de rua tem atraído cada vez mais adeptos nos quatro cantos do planeta. Dentre as diversas histórias que foram transformadas pela corrida, uma delas é a de Jamal Soufane, de 35 anos, marroquino radicado no Ceará há 11 anos.

Caçula entre nove irmãos, Jamal trocou as montanhas da pequena cidade rural de Taounate, no norte do Marrocos, pelo calor litorâneo de Fortaleza. Oriundo de uma família humilde, o marroquino-brasileiro construiu sua trajetória profissional no ensino de idiomas e, hoje, concilia a rotina de professor com a paixão pelas corridas.

Com participação em 14 maratonas oficiais e mais de 100 meias-maratonas disputadas, o corredor representa o Brasil nas principais competições internacionais. A última grande conquista dele foi a participação na Maratona de Boston (EUA) — uma das maiores do mundo —, na qual se destacou como melhor atleta na categoria amador, além de ter sido o brasileiro com melhor tempo na competição.

Em fevereiro deste ano, a Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) concedeu a Jamal o título de cidadão cearense, em reconhecimento ao impacto positivo de seu trabalho na prática esportiva local. Em entrevista ao O POVO, o atleta compartilhou os principais pontos da vida e da trajetória dele.

O POVO: O que representa para você ser reconhecido como cidadão cearense?

Jamal: Mantenho minhas origens e tenho muito orgulho de ser marroquino, mas também tenho muito orgulho de ser brasileiro e cearense. Minha relação com o Ceará sempre foi muito fácil. Eu nunca me senti estrangeiro aqui. Já visitei diversos países e sempre senti estar lá como estrangeiro, não me sentia parte da sociedade. E esse título (de cidadão cearense) representa meu pertencimento em relação ao Ceará.

O POVO: Seu interesse pela corrida foi despertado ainda na infância. Como isso ocorreu?

Jamal: Morávamos em uma região montanhosa, de difícil acesso, onde não passava ônibus para a escola. Por isso, eu e meus irmãos íamos a pé em um percurso de 10 quilômetros, cinco na ida e cinco na volta. Assim, eu me acostumei desde cedo com atividades físicas. E, no ensino primário do Marrocos, temos aulas de educação física focadas em alguns esportes específicos. Na minha região, se destacava a corrida. Então eu treinava com a ajuda dos professores, e cheguei a fazer parte da equipe oficial de corredores da minha escola.

O POVO: Qual foi a corrida mais marcante da qual você participou?

Jamal: Todas as maratonas oficiais que já participei foram muito especiais, mas nenhuma corrida se compara a à experiência de correr a "rainha das maratonas" (a Maratona de Boston, a mais antiga e prestigiada do mundo). Dias antes da maratona, eu enfrentei muitos problemas e passei por muitas coisas na minha vida pessoal. Durante a corrida, consegui descarregar todos os sentimentos que estavam acumulados, talvez por isso tenha sido tão especial. Também pelo resultado, é claro. Fui o melhor brasileiro na corrida.

O POVO: Além de maratonista, você também é professor de árabe e inglês. Como consegue conciliar as aulas com a corrida?

Jamal: Antes da pandemia (de Covid-19), eu trabalhava dando aulas presenciais em uma escola. Era uma rotina muito corrida, com várias aulas por dia. No auge da pandemia, passei a dar aulas on-line, percebi que tinha uma boa didática no ambiente virtual e pensei: "Por que não continuar dando aulas para um público maior?". Então passei a dar aulas virtuais e isso facilitou muito a minha vida como corredor. Tive mais tempo para organizar meus treinos e melhorei meu desempenho. Hoje em dia, sou um atleta semiprofissional e é claro que dou menos aulas para focar mais nas corridas. 

O que você achou desse conteúdo?