A diretora do Instituto do Sono, Monica Levy, apresentou durante o Brain Congress, evento científico realizado em Fortaleza, os efeitos do que ela chamou de "sociedade on-off". Ou seja: o uso de estimulantes e hipnóticos para se manter dormindo e acordado.
Com o modelo atual da sociedade, repleto de demandas e estresse diário, segundo ela, o sono cada vez mais vem sendo colocado como vilão para quem almeja aumentar a produtividade e o tempo acordado.
"Os estimulantes vêm se tornando os protagonistas da nossa vida. Bebidas como refrigerantes, energéticos e cafeína são consumidas para nos manter funcionando. Elas conseguem gerar uma alteração comportamental, estimulando o córtex cerebral e produzindo uma atividade motora exacerbada", explica.
Existem diversas classificações de estimulantes, mas os principais são: anfetaminas, fenidatos, modafinilas, xantinas e cocaína. Todos eles conseguem gerar somente uma hiperatividade momentânea.
"O uso não médico de estimulantes tem se tornado cada vez mais frequente. As pessoas buscam aumento do foco e diminuição da fadiga e do cansaço. O paradoxo é que o sono de qualidade aumenta o foco, a concentração, o aprendizado e o bem-estar físico, psicológico e mental", explicou.
O uso indiscriminado de substâncias é conhecido como smart drugs ou drogas que aumentam o potencial cognitivo. Essas buscas são por atenção, concentração, criatividade exacerbada e motivação para as atividades rotineiras.
A diretora do Instituto do Sono revelou que, no Brasil, um estudo evidenciou que 14% dos alunos de Direito relataram ter consumido substâncias estimulantes no último ano da graduação, em comparação com 4% de outras graduações. As prescrições são frequentemente obtidas por meio de amigos.
"Se não houver um descanso apropriado, aumenta a chance de uso de substâncias que causam insônia, que pode causar uma supersensibilidade de alguns receptores cerebrais, e o efeito pode ser potencializado negativamente.
Atualmente, estudos estão sendo realizados para descobrir o real efeito que essas substâncias podem causar", revela. Em um cenário onde as pessoas tomam substâncias para ficarem acordadas, elas podem desenvolver dificuldade para dormir na noite seguinte, criando um ciclo entre: estimulantes para acordar — estado de alerta até tarde — hipnóticos para dormir e sonolência residual, repetindo a mesma rotina.
"As consequências são diversas: riscos de acidentes, sonolência, prejuízo, dependência, abstinência, quedas e fraturas. Um estudo desenvolvido pelo nosso grupo sobre o uso de zolpidem em idosos mostrou que ele causava quedas, por exemplo. É preciso ter muito cuidado", alerta a profissional.
Segundo ela, o uso indiscriminado e abusivo de medicamentos para o sono leva a situações preocupantes, como pessoas comprando produtos aleatórios ou tendo alucinações. Além disso, o novo retrato da sociedade, em que trocamos a energia do passado por uma hiperestimulação farmacológica, e o repouso natural e saudável por uma farmacologia, é necessário valorizar as pausas.
"Vivemos um ciclo em que queremos ligar todos os motores, especialmente os cerebrais, e queremos desligar tudo depois, causando essa sonolência residual pela manhã. Não busque um ideal de pessoas ultra-alerta visto nas redes sociais. O que precisamos são pausas induzidas por nós e pela nossa saúde", conclui.