86,46% das pessoas que se dedicam ao trabalho de cuidado no bairro São João do Tauape, em Fortaleza, são mulheres negras. Os dados preliminares são da pesquisa “O trabalho de cuidado no São João do Tauape”, iniciada em maio de 2024 e entrevistou 145 pessoas com o auxílio de bolsistas que moram na comunidade.
A apuração, apresentada durante audiência pública no Complexo das Comissões da Assembleia Legislativa do Ceará nesta segunda-feira, 30, é fruto de uma parceria entre a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Secretaria do Trabalho do Estado do Ceará e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), por meio do Programa Cientista-Chefe.
O estudo revela, dentre outros dados, que o trabalho de cuidado é, em sua maioria, não remunerado e exercido por mulheres negras, com baixa escolaridade e em condições socioeconômicas precárias. “Essas mulheres dedicam mais de 10 horas diárias ao cuidado de crianças, idosos e pessoas com deficiência, enfrentando sobrecarga física, emocional e ausência de apoio institucional”, disse a pesquisadora da Funcap, Jacqueline Franco.
O questionário respondido na pesquisa contou com 111 perguntas divididos em quatro blocos, sendo: perfil do cuidador, impactos da saúde no trabalho de cuidado, soluções alternativas para melhorar/viabilizar o trabalho de cuidado e características do cuidado.
Do total, 99,88% dos cuidadores são mulheres, em sua maioria mulheres negras, e 54,13% assumem o trabalho sozinhas. O percentual de homens neste serviço de cuidadores, conforme o levantamento, é de 6,12%.
A metodologia da pesquisa se construiu a partir da identificação dos cuidadores — reunidos ou não — em instituições ou coletivos e no mapeamento de ações desenvolvidas e no mapeamento do cuidado realizado por parte de pessoas da família com a ajuda de líderes comunitários, da pesquisa amostral do mapeamento de domicílios do censo de 2022, dos próprios cuidadores e da busca ativa em centros de prestação de serviço social.
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Conforme a professora da Unichristus, Carolina Sidrim, que participou da apuração, a escolha do São João do Tauape se deu pela pluralidade de perfis e que poderia ser parte representativa de Fortaleza como um todo.
“Nossa ideia era fazer uma pesquisa que fosse além do que já tem sido feito. Nós focamos em um diagnóstico para entender a natureza do trabalho de cuidado, compreender as vivências e a partir dele propor ideias, políticas públicas e estratégias de planejamento de suporte que dê apoio à política nacional de cuidados e, futuramente, a política estadual de cuidados”, detalha.
Responsável pela convocação da audiência, o deputado estadual Guilherme Sampaio, disse que o tema é de imenso alcance social, que envolve o trabalho realizado por inúmeros brasileiros, em sua grande maioria mulheres, mas que segue na invisibilidade.
“Esse ato é invisível a nível de recompensa financeira e a nível de suporte. Para que nós estejamos aqui, muitas pessoas estão em casa cuidando de alguém, seja um idoso, uma criança ou um jovem, e esse trabalho sustenta a economia real mas não aparece, não há remuneração ou valorização, colocando em evidência um trabalho invisibilizado”, disse.
O parlamentar pontuou ainda que o estudo está se expandindo para o Grande Pirambu, o Grande Bom Jardim e para a Grande Messejana.