A BYD apresentou nesta terça-feira, 1º, as duas primeiras unidades do compacto Dolphin Mini e do híbrido Song Plus produzidos no Brasil, na fábrica de Camaçari (BA). Os carros foram desenvolvidos de forma experimental e a produção em série dos dois modelos está prevista para iniciar nas próximas semanas, segundo informou a montadora.
Embora ainda não tenha sido inaugurado oficialmente, o polo automotivo já iniciou a pré-produção do Dolphin Mini e do Song Plus no primeiro galpão já em funcionamento. Até o fim do ano, a chinesa estima fabricar cerca de 50 mil carros no País. A meta é produzir 600 mil veículos anualmente quando a planta estiver com 100% da capacidade de operação.
O POVO teve acesso ao complexo industrial da montadora, localizado na região metropolitana de Salvador, a 51 km de Salvador, e conheceu parte da estrutura responsável pelas linhas de montagem já ativas.
O polo ainda tem vários canteiros de obras com acesso bloqueado por faixas e tapumes, indicando que muito ainda precisa ser feito. A BYD projeta a conclusão do projeto ao longo de 2026.
Até o momento, a fábrica recebeu investimento de R$ 1,4 bilhão, segundo revelou o vice-presidente sênior da marca no Brasil, Alexandre Baldy. O complexo deve receber aporte total de R$ 5,5 bilhões.
De acordo com o executivo, mais de 800 trabalhadores estão atuando no galpão que já está em atividade e mais três mil empregos diretos serão criados nos próximos meses em diversas áreas, como engenharia, logística, tecnologia da informação, etc.
"Esse complexo vai transformar a indústria automotiva no Brasil e no mundo e seu potencial impacta o presente e o futuro do setor automobilístico", discursou o executivo diante de uma platéia formada por autoridades e colaboradores da fábrica. Na ocasião, Baldy também anunciou parceria da BYD com mais de 160 fornecedores locais para equipar as linhas de montagem.
O complexo da BYD está instalado no mesmo local onde funcionou a fábrica da Ford no Brasil, que encerrou as atividades em janeiro de 2021. A chinesa pagou R$ 300 milhões ao Governo da Bahia pelo terreno e instalações industriais. Após o acordo, iniciou as obras de ampliação e modernização da estrutura em março de 2024.
Com mais de 4,6 milhões de metros quadrados — o equivalente a 600 campos de futebol, a planta da BYD no Brasil é o maior complexo industrial de veículos elétricos da América do Sul e a maior fábrica da chinesa fora da Ásia.
A vice-presidente global da marca, Setella Li, destacou que o polo brasileiro vai receber grandes investimentos em pesquisa, tecnologia e inovação. "Estamos dedicados a fazer do Estado da Bahia do Vale do Silício da América do Sul". A executiva projeta que o polo brasileiro será estratégico para impulsionar o crescimento mundial da marca, que em 2024 consolidou-se como líder no segmento elétrico, com participação de 21% no mercado global.
Nesta primeira fase de operação, com apenas um galpão em funcionamento, a fábrica vai operar no sistema SKD sigla inglês para Semi Knocked-Down (semidesmontado). Neste modelo, os carros chegarão da China parcialmente montados e serão finalizados no Brasil.
Com a expansão da planta, as linhas de montagem irão evoluir gradualmente para produção nacional completa — incluindo estampagem, soldagem, pintura e aumento do conteúdo local. A BYD, no entanto, ainda estipula prazo para a conclusão dos próximos galpões.
Além da fabricação de elétricos e híbridos no Brasil, também está nos planos da chinesa o desenvolvimento de um motor híbrido flex, o 1.5 DM-i, projetado e construído numa cooperação entre cientistas chineses e brasileiros.
A BYD realiza, nesta terça-feira, em Camaçari (BA), uma cerimônia para mostrar sua fábrica de veículos, a primeira de uma marca chinesa no Brasil. Não se trata, ainda, da inauguração oficial, já que o início de operação da linha de montagem depende da finalização das obras do galpão principal. A empresa mantém a expectativa de, até lá, convencer o governo a reduzir o Imposto de Importação para veículos semidesmontados.
A apresentação dos primeiros BYDs produzidos no Brasil ocorreu no mesmo dia em que o governo brasileiro elevou a alíquota do Imposto de Importação de 18% a 25% para carros totalmente elétricos e de 20% a 28% para os híbridos plug-in.
A BYD formalizou pedido ao governo para reduzir o imposto a 10% para os semidesmontados durante 12 meses, sob risco de forte impacto nos planos de expansão da planta no Brasil. Alexandre Baldy diz ter recebido garantia de que a solicitação será atendida.
Do lado oposto, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) é uma das maiores defensoras da volta do imposto e argumenta que a medida garante mais competitividade na indústria automobilística nacional e evita a perda de empregos.
Para Baldy, os investimentos da BYD no Brasil justificam um regime diferenciado de tributação. O executivo criticou setores do mercado que lutam pelo aumento da alíquota. “A velha indústria não está inquieta à toa, porque não é só para montagem de carros, é produção nacional e geração de tecnologia aqui no Brasil”.
O início da operação da planta BYD no Brasil ocorre no melhor momento da montadora no mercado nacional desde que começou a vender carros de passeio no Brasil, em 2022. No ano passado, a marca emplacou 77 mil veículos no País, crescimento de 327% em relação ao ano anterior.
Em maio deste ano, a chinesa alcançou outro feito importante ao ultrapassar a Toyota nas vendas de varejo, ficando em quarto lugar no ranking geral, com 9 mil unidades comercializadas, ante 8,6 mil da concorrente japonesa.
*O jornalista viajou à Bahia a convite da BYD Brasil