O Cineteatro São Luiz, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult CE), foi palco dos olhares atentos dos jovens dos Centros Socioeducativos Aldaci Barbosa Mota e Canindezinho, ambos localizados em Fortaleza, que participam do projeto Caminhos Literários. A iniciativa foi criada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
LEIA TAMBÉM | Julho Verde: Crio oferece mutirão gratuito de prevenção ao câncer de cabeça e pescoço, em Fortaleza
O tema deste ano é "Adolescência em Cena", e tem como objetivo promover o acesso à cultura e à arte para adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de todo o País.
Criada em 2022, a ação já certificou mais de 3,2 mil participantes, entre adolescentes e servidores, e envolveu 287 unidades socioeducativas em suas três edições anteriores.
Na ação, foi exibido o filme cearense “Cabeça de Nêgo”, do diretor norte-americano naturalizado no Ceará, Déo Cardoso.
O filme, lançado em outubro de 2021, conta a história do jovem Saulo, que inspirado pelo livro dos Panteras Negras, tenta impor mudanças em sua escola e acaba entrando em conflito com alguns colegas e professores. Depois de reagir a um insulto racista, ele é expulso. Saulo se recusa a deixar as dependências da escola por tempo indeterminado até que a justiça seja feita, dando início a uma grande mobilização coletiva.
Mais de 70 unidades, distribuídas em 25 estados, realizarão dias culturais com workshops de fotografia, música e sessões de teatro e cinema.
A programação, que é híbrida, segue nos dias 8 e 9 de julho, com a participação do rapper e cineasta Mano Cappu, além de uma mostra virtual com apresentações de dança e slam protagonizadas por jovens do Ceará.
São feitas transmissões online e atividades presenciais realizadas em diversas regiões do país.
O juiz e subcoordenador do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e Socioeducativo, Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) Epitácio Quezado, explicou que a importância da iniciativa é a ressocialização dos jovens em cumprimento de medidas socioeducativas.
“É muito importante [aos jovens] sair do centro e conhecer cantos que [eles] nunca foram antes, né? Terem experiências novas. Principalmente voltadas à cultura. O que deve ser ressaltado é que eles são os protagonistas”.
Ele continua: “Eles não vêm apenas conhecer, mas também fazem apresentações e eventos culturais de alta qualidade”.
"Acho que isso é essencial pro desenvolvimento deles como pessoas, mas como adolescentes que estão em cumprimento de medidas também", finalizou o juiz.
A assessora de diretrizes socioeducativas da Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo (Seas), Paula Íris, afirma que é trazida a interação com artistas e equipamentos públicos aos jovens, já que muitos não têm essa oportunidade.
“Muitos não têm essa oportunidade quando estão em casa, nas suas comunidades. Para que eles possam visualizar outras oportunidades, outra rotina e caminhos. É bem importante para eles, justamente por conta dessas vivências".
"Isso vem a contribuir à construção do projeto de vida deles e consequentemente com o retorno deles, gradativo, ao convívio social e comunitário", afirmou Paula Íris.
Além das visitações externas, os jovens também têm momentos fechados dentro dos centros socioeducativos, onde são feitas apresentações de práticas culturais produzidas pelos mesmos.
A ideia, de acordo com Paula, é que os produtos produzidos dentro das instituições sejam apresentadas para todo o Brasil. “Para que eles possam conhecer as práticas uns dos outros", finalizou Paula.
A diretora do Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa Mota, Alexandra Brito, conta que a importância do projeto, além de garantir um direito já previsto na Constituição, é atingir o objetivo principal: a ressocialização.
"Esse acesso à cultura, tanto internamente nas unidades quanto fora, é crucial pra gente conseguir atingir o nosso objetivo enquanto mediadores da ressocialização".
A diretora revela estar cheia de expectativas positivas: “A gente sabe que existem os espaços e eles [jovens] também, mas muitas vezes não tiveram acesso, nunca vieram. Então assim, a gente tá com as melhores expectativas", complementa.
Além de atividades voltadas à cultura, o Centro Aldaci Barbosa também conta com práticas de dança, música e esportes. Outros centros também possuem atividades como capoeira e teatro de bonecos.
Já Erasmo de Souza Júnior, diretor do Centro Socioeducativo Canindezinho, afirma que muitos jovens antes de cometer algum ato infracional, não têm acesso a espaços culturais. “Nós fazemos rodas de conversa e de leitura, apresentamos e discutimos o filme".
O diretor afirma que os jovens têm “gostado bastante” das atividades culturais e que suas expectativas são as melhores possíveis. "A gente acaba retirando aqueles adolescentes que estão mais 'bem confortados', vamos assim dizer, [que] estão ali naquela casa de referência para conhecer esses equipamentos", finaliza.