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Com atividades descentralizadas, Festival Bora ocupa Fortaleza no último sábado
Farol

Com atividades descentralizadas, Festival Bora ocupa Fortaleza no último sábado

Música ao pôr do sol, feira de arte e shows gratuitos marcaram o último sábado (19) do Festival Bora, que espalhou programação cultural por vários cantos de Fortaleza
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FESTIVAL Bora animou a Praia de Iracema (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FESTIVAL Bora animou a Praia de Iracema

O pôr do sol no Estoril, no coração da Praia de Iracema, marcou o início da última noite do Festival Bora, no sábado,19. À medida que o céu se tingia de laranja, os primeiros acordes começavam a ecoar pelos arredores. Quem chegou cedo já pôde sentir que aquele seria um fim de tarde diferente, um convite a percorrer arte, sons e encontros por diversos pontos da Cidade.

O Festival Bora, em sua primeira edição, apostou em uma programação cultural descentralizada, gratuita e espalhada por bairros como Titanzinho, Barra do Ceará, Pirambu, Mucuripe e o Centro.

No sábado, a Cidade virou palco de mais de uma dezena de atividades simultâneas. Na Ponte dos Ingleses, por exemplo, o artista Samuel Rocha apresentou o show “Bordando o Sete” justamente enquanto o sol se punha,um dos muitos momentos em que paisagem e cultura se misturaram com naturalidade.

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A caminhada cultural começava no Largo dos Tremembés, onde a feira Mais Vinil e a Design FOR reuniram mais de 25 expositores de arte, design, moda e discos raros. O espaço logo foi preenchido de famílias com crianças, jovens, turistas e pessoas mais velhas, em um ambiente diverso.

Foi nesse espaço que a artista visual Amanda Nunes expôs seus trabalhos pela primeira vez dentro do festival.

“Recebi o convite por indicação de uma amiga e trouxe serigrafias, adesivos e bandeiras com base nas minhas obras originais. Trabalho com temas ligados ao catolicismo popular e lutas sociais. A proposta do festival me encantou porque dá visibilidade a artistas periféricos”, contou Amanda.

“A serigrafia em papel de lambe-lambe foi o que mais chamou atenção. Cada impressão é única, feita à mão. Muita gente se aproximava para conversar, perguntar sobre o processo. A feira virou também um espaço de troca, não só de venda”.

A secretária Ana Cláudia, 46, descobriu o festival por acaso, passeando com a família.
“Foi uma coincidência feliz. Não conhecia o Festival Bora, mas achei tudo muito bem organizado, com segurança e um clima leve. A diversidade de pessoas me chamou atençã, tinha crianças correndo, idosos assistindo aos shows sentados, casais jovens, grupos de amigos. Todo mundo curtindo junto”.

Mais tarde, ela seguiu para os shows na beira-mar: “Achei maravilhoso acontecer aqui na Praia de Iracema, que é tão visitada e, ao mesmo tempo, precisava de mais vida cultural acessível assim”.

Diversidade de públicos marca o último sábado do Festival Bora em Fortaleza

Seguindo o trajeto proposto pelo festival, o público era conduzido até a Rua dos Tabajaras, onde o grupo Samba Kanjerê animava o fim de tarde com muito batuque. Na sequência, a DJ Bugzinha transformou a rua em pista de dança, misturando funk, ritmos brasileiros e beats eletrônicos.

Já no Estoril, o palco principal recebeu a banda Outragalera, que comemorou os cinco anos do projeto Original Fortal. Em seguida, o show coletivo “Na Paz do Caos” reuniu nomes como Fernando Catatau, Kátia Freitas e Marta Aurélia .

A artista Má Dame acompanhou a noite como espectadora e fã da programação.

“Vim hoje só por causa da Outragalera. Eles são uma referência pra mim, estão nas minhas letras. Fico ali no canto cantando junto, me emocionando. Foi muito bonito”.

Ela também destacou o impacto da proposta descentralizada: “Estive na Barra do Ceará também, vi o show da Di Ferreira, que apresentou o ‘Caos e Benção’, vindo direto da Colômbia. Tudo de graça, e em locais que normalmente não recebem esse tipo de programação. Isso muda tudo. A cidade é muito maior que o centro, e o festival entende isso”, pontua.

O contabilista Ítalo Cardoso, 31, é frequentador assíduo de eventos culturais em Fortaleza, e também aprovou o formato. “Acho que o festival veio na hora certa, com a Cidade cheia, em clima de férias. É bonito ver a galera ocupando os espaços públicos com música, arte e feira. Mas o que mais me chamou atenção foi a pluralidade: tanto de sons quanto de públicos”.

“Ver artistas da Cidade em palcos como o do Estoril, com estrutura e visibilidade, é essencial. E o festival permite isso. Ele mostra que a Fortaleza tem uma cena forte, que só precisava de espaço”.

Para Dinha Ribeiro, artista visual que esteve presente em vários pontos da Cidade em que o festival ocorreu, a sensação era de reconhecimento e pertencimento.

“Hoje me senti em casa. A programação estava conectada com a realidade de quem vive aqui. É legal ver artistas que a gente já acompanha, mas em uma estrutura nova, valorizada”.

Ela ainda reforçou o impacto da descentralização: “Muita gente não pode atravessar a Cidade pra ir ao centro. Quando o festival leva atrações pra bairros como Titanzinho ou Barra do Ceará, ele diz que essa cultura importa. É uma forma de democratizar o acesso e reconhecer a potência que vem das periferias”.

O encerramento da noite ficou por conta dos projetos BNegron Bota o Som e Baile do Ganja, que transformaram a praça do Estoril numa grande pista de dança a céu aberto.

A programação, no entanto, segue até este domingo,20. A partir das 9 horas, no bairro Pirambu, o projeto Arteculando Pirambu – Semana Underground ofereceu oficinas de graffiti, arteterapia e yoga voltadas ao público infantil, reforçando o foco do festival na formação e na inclusão.

À tarde, a tradicional festa Dobingo ocupou a Barraca Foi Sol, com apresentações de Piájay, DJ Rafa, o grupo Mais Melanina e o projeto Samba de Pai pra Filha, reunindo público diverso à beira-mar.

O encerramento oficial do festival acontece no Anfiteatro da Beira-Mar, com o show “Fucking Samba”, de Dipas, com participação do rapper Doixton.

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