Triatleta profissional e influenciadora digital, a cearense Mikelle Coelho, de 32 anos, faz carreira representando o Brasil e o Ceará nas principais competições nacionais e internacionais. Os inúmeros feitos no triatlo e no atletismo já renderam a ela a medalha Ayrton Senna, condecoração cedida pela Câmara Municipal de Fortaleza a atletas que se destacam na prática esportiva.
Natural de Fortaleza, Mikelle cresceu no bairro Aertolândia e viu sua vida ser conectada ao triatlo por acaso, ainda na infância. Desde então, a atleta tranformou a casualidade em estilo de vida e hoje se dedica integralmente ao esporte. Ao longo da carreira, Mikelle precisou superar desafios complexos, inclusive um grave acidente que quase a afastou definitivamente das competições.
Atualmente, além de competir nas principais maratonas pelo mundo, Mikelle usa sua visibilidade para inspirar e retribuir, promovendo iniciativas como o Mika Bday, uma corrida beneficente realizada em seu aniversário que conecta sua história pessoal ao compromisso com a transformação social por meio do espírito esportivo.
Em entrevista ao O POVO, a atleta compartilha os marcos e motivações que moldam sua jornada como atleta.
O POVO - Você começou a trajetória no triatlo bem cedo, como se iniciou essa relação?
Mikelle Coelho - Sempre fui uma criança muito ativa. Minha mãe decidiu me colocar no Centro Comunitário ABC, um projeto social do nosso bairro, e ela foi me matricular achando que era natação, porque a gente ainda não conhecia o triatlo. Esse projeto tinha o objetivo de formar atletas, então a gente treinava para competir. Aos 12 anos eu já fiz a minha primeira viagem nesse projeto para Maceió (AL) para competir no campeonato Norte-Nordeste de triatlo. E a partir daí eu participei de vários campeonatos, tanto o Cearense, quanto o Sul-Americano, no Espírito Santo.
O POVO - Durante a sua adolescência, você passou por um momento de limitação física e teve sua carreira como atleta comprometida. Como isso aconteceu?
Mikelle Coelho - Aos 14 anos eu fui atropelada enquanto eu voltava do treino de bicicleta. Eu fui fazer meu treino de ciclismo normal e depois fui fazer minha inscrição para a Copa Brasil, que aconteceria em Brasília (DF). Me inscrevi e voltei para casa pedalando. E aí eu fui atropelada por um motoqueiro e fiquei incapacitada por dois meses, tenho uma cicatriz na minha perna até hoje. Lembro que fui atendida na emergência do IJF por um médico que olhou para mim e para o meu pai e, no momento que ele viu a minha perna aberta, falou que eu esquecesse a corrida porque eu nunca mais ia conseguir correr na vida. Então eu passei um mês sem andar e no segundo mês eu já comecei a me movimentar dentro de casa e a subir a escada. Isso tudo foi muito próximo do meu aniversário, e o que eu pedi a Deus era que eu conseguisse correr de novo no dia do meu aniversário. E eu consegui, então fiquei muito feliz, para mim foi um momento muito mágico, que também relaciona a corrida especialmente com o meu aniversário.
O POVO - Além de atleta você também é influenciadora digital. Como concilia os treinos do triatlo com as atividades de corrida?
Mikelle Coelho - Sim, hoje sou triatleta profissional, eu subi esse ano para a categoria elite do triatlo, principalmente nas longas distâncias, que é a minha especialidade, mas também sou influenciadora de esporte nas minhas redes. Mas eu treino para competir no Ironman (maior circuito de triatlo de longas distâncias), e acaba que, no meu treinamento para o Ironman, eu consigo encaixar o ciclo da maratona, porque é um treinamento de longa distância também. Então assim eu vou equilibrando os dois. Primeiro, para não perder a oportunidade maravilhosa de conhecer outros lugares do mundo a convite dos meus patrocinadores. Segundo, para fazer o meu trabalho com os patrocinadores, que é isso, da presença e da criação de conteúdo e influência no esporte. E terceiro, porque a corrida é o meu xodó. Eu faço triatlo, que é natação, pedal e corrida, mas eu amo correr. Então eu gosto de participar de provas de corrida de rua também.
O POVO - Você organiza uma corrida de rua beneficente no seu aniversário. Qual é a principal motivação por trás dessa iniciativa?
Mikelle Coelho - O Mika Bday tem muitas coisas relacionadas, mas a essência é o que aprendi com o esporte, de como eu evoluí na minha vida, de como eu cresci com o esporte e como isso foi importante para mim, para superar todos os desafios que eu já enfrentei. É uma forma de retribuir para alguém o que alguém já fez por mim um dia. Então no meu aniversário eu quero comemorar correndo, porque desde os 15 anos foi assim que eu comemorei e retornei para o esporte que eu amo. E a partir dessa corrida eu consigo arrecadar fundos para contribuir em um projeto social que me fez ser o que eu sou hoje. Então eu acredito que das 150 crianças que o Atitude Atleta atende hoje, lá no Pirambu, pelo menos uma a gente vai conseguir mudar o caminho. Essa é a minha esperança.