Dos escorregões recentes do ministro Alexandre de Moraes, do STF, o mais (advérbio de intensidade) inofensivo foi a troca de "mas" (conjunção adversativa) por "mais" na frase "a Justiça é cega, MAIS não é tola" - com palavras em caixa alta seguidas de exclamação, talvez ironizando os maneirismos de Donald Trump, cujo estilo grandiloquente é dado a esse tipo de marmota.
É verdade que Moraes apanhou nas redes, mas pelos motivos errados (o deslize de gramática). Mais grave foi esse vaivém de despachos que pareciam se suceder sem dizer a que vinham, ou seja, sem efetivamente aclarar se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alvo de medidas cautelares, podia conceder entrevistas e, se sim, o que poderia falar sem se comprometer.
Mais de uma semana depois que o ex-mandatário passou a usar tornozeleira eletrônica, não se sabe ainda. E isso é ruim, jurídica e politicamente. Sob o ângulo da ação penal, porque instaura uma zona cinzenta não qual impera a incerteza em relação à extensão da decisão do magistrado e também quanto à natureza dos termos empregados.
Afinal, como definir "patente coordenação" e "instrumentalização de entrevistas", por exemplo, expressões que caracterizariam, em tese, a participação direta ou indireta de Bolsonaro na propagação de ataques ao Supremo, o que seria interpretado como obstrução ao processo, eventualmente levando o réu à prisão?
Mais: num texto enxuto e genérico como o assinado por Moraes, como fazer uso de "milícias digitais" sem critérios nítidos? Esses atropelos se refletem no mundo político, onde os apoiadores do ex-chefe da nação travam uma batalha contra a corte, tentando emparedá-la, sobretudo por causa das providências adotadas pelo relator, logo traduzidas como censura pelo bolsonarismo - o que o ministro nega.
Mas negar é insuficiente, especialmente se, ao pé da letra, a sentença do juiz é turva, sugerindo tanto uma coisa quanto outra, isto é, que Bolsonaro pode falar, mas não sobre qualquer assunto, tampouco a qualquer um.