Um ex-jogador de basquete foi preso por tentativa de feminicídio depois de espancar a namorada com mais de 60 socos no rosto, dentro de um elevador em Natal, no Rio Grande do Norte. O crime foi registrado no sábado, 26, em Ponta Negra, zona sul da cidade.
O agressor foi identificado como o estudante Igor Eduardo Pereira Cabral, de 29 anos, cujo nome está registrado na Liga Nacional de Basquete. A defesa dele não foi localizada pela reportagem até a publicação deste texto. A agressão foi flagrada por câmeras de segurança dentro do elevador. Nas imagens, o casal parece inicialmente estar discutindo. De repente, Cabral avança sobre a namorada, desferindo socos em seu rosto. Mesmo após ela cair no chão, ele continua a agredindo a socos. Também é possível ver o rosto da vítima ensanguentado.
Conforme relatos de testemunhas, o porteiro do condomínio viu as imagens e acionou a Polícia Militar. Quando o elevador parou no térreo, moradores contiveram o agressor até a chegada dos policiais. De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, o ex-atleta passou por audiência de custódia ainda no fim de semana e foi decretada sua prisão preventiva. O caso está em segredo de Justiça para resguardar a vítima.
Em depoimento a Polícia Civil, Cabral afirmou que foi até a casa da vítima para buscar seus pertences, pois teria descoberto uma suposta traição. Depois de ele ter chegado ao prédio, a mulher teria se recusado a abrir a porta do apartamento, o que teria irritado o ex-atleta - que alega que ela ainda o teria xingado e rasgado sua camisa. À polícia disse também que, durante a agressão, estaria sofrendo um "surto claustrofóbico".
Já a vítima diz que houve uma crise de ciúme. Em um bilhete, ela contou que Cabral afirmou que iria matá-la. "Eu sabia que ele ia me bater, então não saí do elevador. Ele começou a me bater e disse que ia me matar", escreveu a vítima em um pedaço de papel durante atendimento no hospital. A mulher escreveu o bilhete porque estava com o rosto ensanguentado e o maxilar fraturado e não conseguia falar.
A delegada Victoria Lisboa, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Natal, disse que a vítima relatou à polícia outras agressões de Cabral, tanto físicas quanto psicológicas. A mulher mencionou um empurrão e que o agressor também a violentava de maneira psicológica, incentivando-a a cometer suicídio.
Ainda de acordo com a delegada, a vítima contou que Cabral consumiu drogas no sábado, antes de agredi-la. "Ela informou que ele havia ingerido cocaína. Com relação à vítima, não fazemos esse tipo de questionamento porque o importante para a gente é o que aconteceu com ela", acrescentou Victoria.
A advogada Caroline Mafra, que representa a vítima, mostrou preocupação com a questão psicológica. "Minha cliente está bem, na medida do possível. É um caso delicado. As lesões externas são o mínimo do que fica. As questões psicológicas são bem mais gravosas e estamos tentando ter todo o zelo com ela para que ela possa ter todo o suporte necessário nesse início. Estamos tentando protegê-la de todas as formas", disse.
Reconstrução do rosto
A vítima foi encaminhada ao Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, principal unidade pública do Rio Grande do Norte, onde ontem aguardava por um procedimento cirúrgico para reconstruir o rosto, pois teve o maxilar fraturado.
A tentativa de feminicídio se refere ao ato de tentar matar uma mulher motivado por questões de gênero, ou seja, quando a violência é cometida contra a vítima simplesmente por ela ser mulher. Isso está inserido em contexto mais amplo de violência de gênero, que inclui discriminação, abuso e outras formas de violência física, psicológica ou sexual.
O agressor
No seu perfil do Instagram, Cabral faz menção ao "basketball". Procurada, a Liga Nacional de Basquete não se pronunciou até as 20 horas de ontem.