O Brasil só deixou o Mapa da Fome duas vezes neste século: em 2014 e agora. Isso significa que menos de 2,5% dos brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar crônica, conforme definição da ONU. Sendo mais específico: no país do "rei do ovo", essas pessoas não consonem um volume de calorias suficiente para sua própria sobrevivência.
Ocorre que não somos um país pobre sob o ponto de vista da produção de alimentos. Pelo contrário, exportamos carne, café, pescado e frutas para o mundo. Mas grande parcela da sua população não tem o que comer. Por quê? Porque a desigualdade é socialmente produzida. Porque os brasileiros não são pobres, mas empobrecidos - há uma diferença entre essas palavras. E isso é vergonhoso.
É importante deixar o Mapa da Fome, claro, mas também se envergonhar por ter estado nele. Que o Brasil conviva bem com essa realidade, portanto, é um de nossos impasses mais duradouros. Não se trata aqui de agenda política, deste ou daquele presidente. A alimentação básica deveria figurar como compromisso de Estado, assim como uma renda mínima. Afinal, como mostrou levantamento recente sobre o Bolsa Família, os inscritos no programa diminuíram em cerca de um milhão, numa queda atribuída à melhoria dos ganhos, contrariando a máxima liberal de que os beneficiários do auxílio acabam ficando dependentes e preguiçosos - fantasia que só existe na cabeça de quem tem comida farta na mesa todo santo dia.