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Mapa da fome: entre o alento e a vergonha
Farol

Mapa da fome: entre o alento e a vergonha

É importante deixar o Mapa da Fome, claro, mas também se envergonhar por ter estado nele. Que o Brasil conviva bem com essa realidade, portanto, é um de nossos impasses mais duradouros
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Antônia Borges da Silva, dona de casa. Retratos do Bolsa Família. A história de quem é beneficiado pelo progama, e o impacto na economia dos municípios. (Foto: Aurélio Alves/JORNAL O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Antônia Borges da Silva, dona de casa. Retratos do Bolsa Família. A história de quem é beneficiado pelo progama, e o impacto na economia dos municípios. (Foto: Aurélio Alves/JORNAL O POVO)

O Brasil só deixou o Mapa da Fome duas vezes neste século: em 2014 e agora. Isso significa que menos de 2,5% dos brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar crônica, conforme definição da ONU. Sendo mais específico: no país do "rei do ovo", essas pessoas não consonem um volume de calorias suficiente para sua própria sobrevivência.

Ocorre que não somos um país pobre sob o ponto de vista da produção de alimentos. Pelo contrário, exportamos carne, café, pescado e frutas para o mundo. Mas grande parcela da sua população não tem o que comer. Por quê? Porque a desigualdade é socialmente produzida. Porque os brasileiros não são pobres, mas empobrecidos - há uma diferença entre essas palavras. E isso é vergonhoso.

É importante deixar o Mapa da Fome, claro, mas também se envergonhar por ter estado nele. Que o Brasil conviva bem com essa realidade, portanto, é um de nossos impasses mais duradouros. Não se trata aqui de agenda política, deste ou daquele presidente. A alimentação básica deveria figurar como compromisso de Estado, assim como uma renda mínima. Afinal, como mostrou levantamento recente sobre o Bolsa Família, os inscritos no programa diminuíram em cerca de um milhão, numa queda atribuída à melhoria dos ganhos, contrariando a máxima liberal de que os beneficiários do auxílio acabam ficando dependentes e preguiçosos - fantasia que só existe na cabeça de quem tem comida farta na mesa todo santo dia.

 

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