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A missão de julgar Bolsonaro
Farol

A missão de julgar Bolsonaro

Bolsonaro será considerado culpado pelos crimes imputados, não há dúvida, salvo reviravolta jurídica ou uma hecatombe. Seus advogados de defesa hão de arguir novamente a suspeição de Moraes e a competência do foro
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Fachada do Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ex-presidente Jair Bolsonaro será julgado, na Primeira Turma
 (Foto: Pedro França/Agência Senado)
Foto: Pedro França/Agência Senado Fachada do Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ex-presidente Jair Bolsonaro será julgado, na Primeira Turma

A fotografia de Gabriela Biló, da Folha de S. Paulo, rapidamente se espalhou pelas redes. Nela, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se posta no limiar da entrada da residência onde cumpre prisão domiciliar desde o início de agosto, em Brasília, o corpo levemente inclinado para a frente, como se testasse os limites da decisão do ministro do Supremo Alexandre de Moraes.

A imagem captura a tensão do momento: o ex-mandatário no âmbito da esfera privada, mas no banco dos réus, à espera do início do julgamento que deve condená-lo, e a outros militares, por tentativa de golpe de Estado. Sim, Bolsonaro será considerado culpado pelos crimes imputados, não há dúvida, salvo reviravolta jurídica ou uma hecatombe. Seus advogados de defesa hão de arguir novamente a suspeição de Moraes e a competência do foro. Nenhuma dessas questões, que já haviam sido afastadas na fase anterior do processo, deve prosperar.

O que resta ao ex-chefe da nação, então? Mover suas peças no tabuleiro político de 2026, optando seja por uma candidatura presidencial que leve o seu sobrenome às urnas (Flávio ou Michelle), seja por uma que represente seus interesses no pleito, a exemplo de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Enquanto isso, Bolsonaro exibe o figurino que lhe cabe agora, ou seja, o de perseguido político, um refugiado cuja vida está sendo devassada e a intimidade, desrespeitada, e isso a foto também revela, embora seja uma tese sem sustentação nem aderência popular - o que não impedirá o ex-capitão de explorá-la nos dias que se seguirem ao desfecho da ação penal e principalmente no ano que vem, na hipótese de racha no campo da direita (um cenário que de modo algum pode ser descartado).

De volta ao retrato de Jair imaginariamente "dentro das quatro linhas" (da própria casa): às vésperas do capítulo final dessa novela golpista, é impossível não ler todo o episódio como um acerto de contas tardio do país com sua própria história.

 

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