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Morre aos 91 anos Mino Carta, expoente do jornalismo brasileiro
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Morre aos 91 anos Mino Carta, expoente do jornalismo brasileiro

Fundador e diretor de redação da revista Carta Capital, o profissional marcou a história do jornalismo no Brasil
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MINO Carta, jornalista, escritor e editor da revista Carta Capital (Foto: Edimar Soares, em 17/4/2013)
Foto: Edimar Soares, em 17/4/2013 MINO Carta, jornalista, escritor e editor da revista Carta Capital

Morreu aos 91 anos nesta terça-feira, 2, o jornalista ítalo-brasileiro Demetrio Carta, mais conhecido como Mino Carta, referência na imprensa brasileira. Fundador e diretor de redação da revista Carta Capital, o profissional marcou a história do jornalismo no Brasil. Ele lutava contra problemas de saúde, “com idas e vindas ao hospital”, segundo informou a publicação que liderava.

Nasceu em Gênova, na Itália, em 6 de setembro de 1933. Seu avô, Luigi Becherucci, foi diretor de um jornal genovês e perdeu o cargo com a ascensão do regime fascista. A família de Carta chegou a São Paulo em agosto de 1946. Cursou Direito na Universidade de São Paulo, mas não concluiu a graduação. Retornou à Itália em 1956, onde passou a trabalhar no jornal Gazetta del Popolo, de Turim. Voltou ao País na década seguinte.

Carta foi diretor das revistas Quatro Rodas, Veja e IstoÉ. Enquanto diretor da Quatro Rodas, destacou-se e foi convidado pelo Estadão a assumir a edição do caderno de Esportes A experiência valeu como base para o lançamento do Jornal da Tarde.

Fundada em 1994, a Carta Capital é uma revista conhecida por manter uma visão mais “progressista” dos acontecimentos, em contraste com as publicações de tom mais “conservador” ou “liberal”. A publicação se propõe a ser “maior referência em jornalismo progressista no Brasil, em qualquer plataforma”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cancelou agendas com ministros previstas para esta terça-feira, 2, para comparecer ao velório do jornalista Mino Carta, em São Paulo.

Em publicação no X, Lula lamentou a morte de Mino Carta, afirmando que ele foi uma referência ao jornalismo brasileiro pela sua "coragem" e "espírito crítico". O presidente anunciou ainda que irá decretar três dias de luto oficial.

"Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou", disse Lula.

Ditadura militar

Mino Carta tornou-se expoente do jornalismo político durante a ditadura militar e irritou o regime na edição inaugural de Veja, em setembro de 1968, que trazia na capa uma ilustração com uma foice e um martelo. Em 1969, com o AI-5 em vigor, a revista expôs os casos de tortura do regime em matéria de capa.

Carta foi próximo do general Golbery do Couto e Silva, ex-ministro da Casa Civil e arquiteto da abertura política do regime militar. Além da trajetória enquanto jornalista, é autor de três romances.

Redes sociais

Em entrevista recente ao jornalista Lira Neto no contexto da publicação do livro do Lira Memória do Jornalismo Brasileiro Contemporâneo, Mino Carta faz dura crítica à subordinação do jornalismo profissional à dinâmica das redes sociais controladas pelas big techs.

Para ele, a internet limitou o jornalismo e passou a pautar os jornais. “Em lugar de praticar um jornalismo realmente ativo, na busca corajosa pela verdade, a imprensa está sendo engolida e escravizada pelas novas mídias. Veja a tragédia do celular. Com ele, o homem emburrece, não progride”.

Carta era um crítico do jornalismo empresarial, chamada de “grande mídia”, e reconhecia que a independência editorial tinha preço.

“As revistas são, essencialmente, sustentadas por publicidade. Eu poderia estar muito rico, ter me vendido de várias maneiras. A única coisa que tenho na vida é esse apartamento que estou tentando vender, porque não tenho mais dinheiro”, revelou. (Das agências)

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