Conhecida na televisão brasileira por dar vida a Magda, uma das personagens mais icônicas o semanal "Sai de Baixo" (exibido de 1996 a 2002), Marisa Orth ganhou destaque no audiovisual através da comédia. Uma das homenageadas no 20º Cine OP, evento realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, a atriz, cantora e apresentadora encontrou espaço na comédia, quando sequer desejava.
Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e em interpretação pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP), a artista afirma que o riso foi algo de família e que ninguém faz comédia como o brasileiro.
OP - Você tem uma longa trajetória no humor e eu queria saber como começou esse seu despertar para pegar papéis no gênero. Foi algo intencional?
Marisa Orth - Não, não foi. Foi duro. Eu tentei não ser engraçada, tá? Tentei negar isso aí. No começo eu não achava que era isso que ia ser meu. Eu sempre fui, vamos dizer assim... meu pai é muito engraçado, minha mãe era muito engraçada, e eles cultivavam muito essa coisa do humor em casa. Eles valorizavam "um amigo que mandou aquela naquele jantar"! E eles riam e riam. Tinha uma tia muito engraçada - eram amigos deles que eu chamava de tio e tia - e isso era muito valorizado lá em casa. Eu achava isso incrível. E eu também falava umas coisas que eles riam muito. Então pensei: "Olha, dá certo".
Aí na Escola de Arte Dramática, quando eu estava me formando, apredendo a ser atriz, tinha aulas de voz, de sotaque, de "accent". Hoje, com esse papo de lugar de fala, acho que nem se usa mais assim, mas, enfim, era importante. E eu, para apresentar os sotaques, fazia uns quadrinhos engraçados: o caipira, a americana... e aí era um sucesso! E aí era um sucesso essa apresentação, vinha gente de outros "anos" para assistir. Eu ficava: "Gente…"
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OP - E além de casa, quais foram as tuas referências?
Marisa - E aí Grace Gianoukas me ajudou muito. Somos totalmente contemporâneas, começamos juntas. Miguel Falabella, apesar de poucos anos mais velho, foi um mestre para mim na comédia. Os cariocas me ajudaram muito e os cearenses também. Podem me chamar de preconceituosa, o Brasil inteiro tem comediantes excelentes. Agora o subúrbio do Rio de Janeiro e o Ceará não têm para ninguém. Desculpa, pronto falei. Claro, tem baiano hilário, pernambucano hilário, mineiro hilário, paulistano hilário... mas insisto: subúrbio do Rio e Ceará são especiais. Não sei o que vocês têm.
Vocês sempre valorizam a comédia. As feiras populares têm uma hora de contação de piada, campeonatos de piada. Isso é uma tradição do Ceará que é muito bacana, que eu acho que devia se espalhar pelo Brasil inteiro.
OP - E nesses anos todos, quais personagens ou qual personagem te marcou mais dentro da comédia?
Marisa - Magda, inevitavelmente. E também o meu show que fiz durante 15 anos, que era (banda) "Vexame", um show de música dita brega — que eu brinco que é a MBPBB. Tem a MPB que é a Música Popular Brasileira e tem a MBPBB - Música Bem Popular, Bem Brasileira.
E lá eu tinha uma personagem, Marlon Menezes, era um show, mas tinha uma apresentadora. Fiz muito show com ela e improvisava lindamente. Então, Marlon Menezes e Magda foram marcantes. Muitos outros também, mas esses dois são o que me lembro.
OP - Você falou muito sobre essa tradição brasileira do humor. O que você acha que destaca tanto o nosso humor diante dos outros países?
Marisa - Eu conheço pouco da produção de humor de outros países. Você vai falando as coisas em festival e quando vai ver você não fez pesquisa nenhuma (a entrevista com O POVO foi realizada durante o Cine OP). Não conheço o humor da Letônia, da Zâmbia... eles devem ter grandes humoristas, mas eu não conheço. Em festival, a gente fica falando um monte de "lálálá" e aí posso me lascar aqui. Mas o que percebo, pelo feedback que a gente recebe em outros países, porque sai um pouco do Brasil, a gente escuta isso.
Não sei, talvez o humor nasça de coisa ruim, do descaramento, da crítica. Se estiver tudo ok, tem menos humor. Eu brinco que a piada boa começa quando você descobre o furo na canoa, entendeu? Quando a maçaneta sai na sua mão, quando alguém tem o descaramento de fazer uma coisa muito injusta ou malvada. A gente tem que rir. Acho que o Brasil é um país muito maltratado historicamente, muita injustiça social, muita impunidade, muita violência. Infelizmente, acho que a gente tira humor daí.