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PEC da Blindagem enterrada, mas não esquecida
Farol

PEC da Blindagem enterrada, mas não esquecida

Em uma primeira vista, parece soar que a resposta dos senadores foi um lampejo de bom senso, como paladinos da Constituição e do povo brasileiro. Uma breve lupa no panorama mostra que o texto já não era mais viável politicamente, especialmente quando dois terços das vagas do Senado estarão em disputa no ano que vem
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Atos em cidades brasileiras pressionaram o Congresso a arquivar a PEC da Blindagem (Foto: MARCELO D. SANTS/ESTADÃO CONTEÚDO)
Foto: MARCELO D. SANTS/ESTADÃO CONTEÚDO Atos em cidades brasileiras pressionaram o Congresso a arquivar a PEC da Blindagem

Não foi surpresa a decisão da CCJ do Senado de votar contra a PEC da Blindagem. Talvez os pequenos detalhes tenham gerado mais impacto. Da desistência de emendas que tentavam salvar o texto a senadores do PL, partido que foi unânime na Câmara para aprovar, não só rejeitando a proposta, mas discursando contra. A PEC já vinha em um desenho claro de encontrar, no Senado, seu fim.

E, em uma primeira vista, parece soar que a resposta dos senadores foi um lampejo de bom senso, como paladinos da Constituição e do povo brasileiro. Desde o início, alguns parlamentares já se mostravam contra, mas isso não entregaria uma rejeição unânime. Ainda mais que uma pauta não tramita em uma Casa Legislativa sem a outra saber, não há espaço para essa narrativa de um Senado pego de surpresa.

Uma breve lupa no panorama mostra que o texto já não era mais viável politicamente, especialmente quando dois terços das vagas do Senado estarão em disputa no ano que vem. Além da explosão nas redes sociais, a pressão cresceu quando multidões foram às ruas contra a proposta.

As capitais se encheram de manifestantes, em uma articulação puxada pela esquerda que, há muito tempo, fracassava em imprimir força em mobilizações externas. O motriz não só o texto assombroso da PEC, mas também as nuances de uma votação na calada da noite, e que, não satisfeitos com o resultado, fizeram uma nova votação, desta vez relâmpago, para retomar o voto secreto. Imagine: para abrir investigações, o juíz seria o colega do acusado, e sem riscos de sofrer represálias.

A população mostrou sua força, e não pode esquecer que a tem. A pressão fez, rapidamente, deputados abandonarem os discursos lustrosos de proteção das prerrogativas do mandato para desculpa ou confusas mea culpa. O resultado são dois lados de uma moeda: o Congresso ainda é suscetível à pressão popular, mas parece vacinado e é preciso um "arsenal" maior para que o desejo da população seja priorizado. O já vai tarde para a PEC da Blindagem deixa um recado: estar vigilante não é um opção, é obrigatório. Hoje a blindagem, amanhã anistia ou outra pauta que certeza vai aparecer.

 

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