A deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, (PT) desembarcou em Fortaleza por volta das 16h40min deste sábado, 11, e foi recepcionada pela militância que encheu o saguão do Aeroporto Pinto Martins. O retorno ocorre após integrar missão humanitária que tentava chegar à Faixa de Gaza, mas foi interceptada por Israel.
"A nossa ida lá, acima de tudo, é o respeito à vida, porque vidas palestinas importam. A nossa luta é uma luta humanitária. E uma missão humanitária não quer saber onde as pessoas estão sofrendo e o que estão sofrendo e porque estão sofrendo. Ela quer simplesmente livrar do sofrimento, porque toda a vida humana deve ser respeitada, como a natureza, como os animais devem também ser respeitados. Então, a nossa atitude foi muito mais uma obrigação moral do meu tempo", disse a deputada em entrevista coletiva.
"Independentemente do que entenda, quem entenda, quem quer entender, mas eu sei que os revolucionários, como diz o Che Guevara, são movidos por grandes sentimentos de amor. E eu acho que eu fui movida por um grande sentimento de amor. Amor à vida, amor à humanidade, amor aos palestinos e às palestinas que eu nem conheço, mas sei que eles estavam precisando de alguém que olhasse para eles. Então, todos os olhos em Gaza", complementou.
Luizianne chegou ao Brasil na última quinta-feira, 9, quando desembarcou no aeroporto de Guarulhos (SP), encerrando a missão humanitária que integrava rumo à Faixa de Gaza e que foi detida por forças israelenses.
Após chegar ao País, a deputada seguiu para Brasília, onde tinha compromissos antes do retorno à Capital. Luizianne estava como observadora internacional da flotilha humanitária, que levaria alimentos e medicamentos a palestinos.
Na capital cearense, Luizianne mencionou a demora para serem retirados do presídio em que ficou detida.
"Presidente Lula foi o primeiro presidente no mundo que caracterizou [o que acontece em Gaza] como genocídio. Isso custou que Israel tirasse o embaixador de Brasília e o Brasil tirou o embaixador de Israel. Nós só tivemos contato com funcionários da embaixada lá. Inclusive, isso provocou a nossa demora. Nós fomos um dos últimos a sair do presídio de segurança máxima por conta disso", revelou.
Questionada se tinha passado por algum tipo de tortura, Luizianne disse: "Na hora que a gente chegou no porto, todos nós ficamos por mais de uma hora de quatro pés, como diz aqui no Brasil, com a cabeça no chão. Eu estou com o joelho ferido até hoje. Com cotovelo no chão, segurando o passaporte na frente e com a cabeça no chão por mais de uma hora", contou.
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Segundo ela, essa "foi uma imagem que o ministro da Segurança Nacional de Israel fez questão de mostrar para toda a população israelense".
A recepção da ex-prefeita em Fortaleza contou com a presença de correligionários como o deputado federal José Airton Cirilo; a deputada estadual Larissa Gaspar; os vereadoras professora Adriana Almeida, Mari Lacerda e Dr. Vicente; o presidente do PT Fortaleza, Antônio Carlos; e os superintendentes no Estado do Ibama, Deodato Ramalho, e do Detran, Waldemir Catanho. Lia de Freitas, primeira-dama do Ceará, também recebeu Luizianne.
A deputada disse que haverá, no próximo dia 14, uma audiência pública na Câmara Federal puxada pelo deputado João Daniel (PT-SE), que discutirá o papel do Brasil na reconstrução de Gaza. Para ela, a missão por Gaza ainda não terminou.
Eu vou estar envolvida em todos esses processos, porque sendo representante da Liga Parlamentar Internacional, que o presidente é do Iemen, então é uma liga que agrega gente do mundo inteiro e que, agora que tudo isso que aconteceu, deu uma força maior para que a liga agora começasse a fazer em todo mundo ações pra gente conseguir conter o genocídio em Gaza. Aí parece que está dando certo, né? Foram 31 dias que movimentaram o mundo, a Europa parou. Então, nós temos que seguir esse exemplo porque no dia que nós tivermos precisando, a gente vai querer que todo mundo se mobilize para vir ajudar a gente aqui", explicou.
Em meio à grande movimentação no desembarque da ex-prefeita de Fortaleza, a fotógrafa internacionalista Karine Garcez, trajada roupas típicas utilizadas por mulheres palestinas, nas cores da bandeira daquele país, entregou um livro de sua autoria para Luizianne.
Karine esteve na Faixa de Gaza por 60 dias em 2012 e realiza trabalhos voltados às crianças em situação de refúgio na Palestina, tema do livro publicado. Para ela, há uma grandeimportância da ação civil, como a participação em flotilhas, parapressionar governosa agir em relação ao que ela descreve como um"campo de concentração a céu aberto"na Faixa de Gaza.
"Se não houver pressão, não haverá mudanças. Desde 2010 a flotilha acontece para quebrar esse bloqueio, para forçar os governos no mundo a agirem contra isso, porque é um afronta ao direito internacional", destacou ao O POVO.
Garcez acredita que a presença de uma parlamentar coloca o Brasil nessa luta por justiça social. "A participação da Luizianne coloca o Brasil nesse cenário de luta internacionalista, porque a gente tem uma luta por justiça social, mas ela fica muito focada dentro do nosso território e é como se ela não existisse fora do Brasil. E a luta é global", argumentou.
Presente no local para receber a amiga e companheira de PT, a vereadora de Fortaleza Mari Lacerda disse ser um dia de dupla comemoração.
"Ela (Luizianne) sempre toma decisões muito grandiosas e essa foi mais uma. Quando ela tomou essa decisão, todos nós ficamos muito apreensivos porque, de fato, tinha a possibilidade dela não voltar, pelo pelos crimes bárbaros que Israel tem feito. Então, a gente ficou com coração apertado. Hoje é um dia de muita alegria, tanto pela chegada dela, mas também pelo impacto que a Flotilha teve e também pelo anúncio do cessar-fogo", destacou.