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Governo fala grosso com o centrão
Farol

Governo fala grosso com o centrão

Ao se recolocar no tabuleiro, o presidente recupera um capital importante para dissuadir as forças mais fisiológicas de aderirem a esta ou àquela plataforma de oposição na campanha
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Presidente Lula e vice-presidente Geraldo Alckmin no Palácio do Planalto (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP Presidente Lula e vice-presidente Geraldo Alckmin no Palácio do Planalto

A demissão de indicados no segundo escalão da gestão federal é mais do que mera retaliação do governo ou súbita mudança de postura na relação de Lula com a volatilidade de sua base congressual. Há nesse movimento uma inflexão que prepara o cenário e seus atores para o ano eleitoral, ou seja, o lulismo deseja começar 2026 em posição de negociar apoios com aquelas legendas para as quais uma candidatura de Tarcísio de Freitas ou Ratinho Jr. talvez fosse interessante. Ao se recolocar no tabuleiro, o presidente recupera um capital importante para dissuadir as forças mais fisiológicas de aderirem a esta ou àquela plataforma de oposição na campanha.

É contra esse pano de fundo que os cortes nas estatais, a exemplo da Caixa Econômica, ganham sentido, isto é, não se trata de decisão episódica do Executivo, mas de uma reformulação dos termos da composição que vai estar com Lula e o PT nas eleições do ano que vem. Logo, como para bom entendedor meia palavra basta, Arthur Lira, Hugo Motta e outros que orbitam o núcleo duro do centrão já devem ter entendido a esta altura que, se se mantiver nessa toada, o chefe do Planalto tende a chegar com boas condições de jogo no pleito, o que dificulta as chances de impor uma derrota ao petista nas urnas. Dois ou três meses atrás, o quadro era inteiramente outro.

O que mudou de lá para cá? Basicamente, a oposição cometeu erros em série, seja com Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos ou com Tarcísio metendo os pés pelas mãos ao queimar a largada da corrida e se atirar ao mar para tentar salvar Jair Bolsonaro. A isso se some a divisão do bloco da direita, e o que se vê é uma maré favorável que Lula tem sabido aproveitar muito bem, como o político hábil que é.

Esse horizonte vai se manter até meados de 2026? Não se sabe. Por ora, no entanto, o governo deixou as cordas e partiu para o ataque manejando um discurso eficiente contra o centrão (ricos x pobres), pressionando figuras como Kassab e o próprio Lira, e avançando sobre um território até então pouco explorado por esse campo da esquerda: as redes sociais.

 

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