“Eu recebi um diagnóstico de câncer e três meses de vida, mas já se passaram 23 anos”, conta Celina Rêgo Ferreira, de 66 anos. A empresária do lar foi uma das mulheres contempladas com próteses mamárias externas e sutiãs, distribuídos gratuitamente, nesta sexta-feira, 31, no Hospital e Maternidade Dra. Zilda Arns Neumann, em Fortaleza.
A ação faz parte da iniciativa “Reconstruindo Autoestima”, responsável pela produção dos materiais doados, promovida pela Prefeitura de Fortaleza, em parceria com a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SDE).
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Ao todo, foram produzidas mil próteses e mil sutiãs para serem entregues às mulheres que passaram pela cirurgia de mastectomia, com a retirada da mama.
Durante o evento, o prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), informou que pretende transformar a iniciativa em política pública. De acordo com o gestor municipal, o programa será apresentado à Câmara Municipal de Fortaleza nos próximos dias.
“Ação essa que nós já, inclusive, conversamos com a Secretaria das Mulheres, assim como com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, para que a gente transforme uma ação como essa em política pública (...) Uma ação que será transformada em programa, para que a gente possa ter ações como essa, contínuas, durante todo o ano”, defendeu.
Titular da SDE, Antônio José Mota ressaltou a importância da parceria público-privada para a doação de insumos, pagamento das costureiras que atuaram nos ateliês da Prefeitura e para a realização de estudos oncológicos que permitiram a confecção dos itens.
“São próteses (de tamanhos) P, M e G e nós iremos distribuir. Durante este mês foram mil próteses com mil sutiãs (...) Mas, continuaremos durante o mês de novembro e nos meses subsequentes, a entrega dessas próteses com os sutiãs. Qualquer pessoa, qualquer mulher que passou por um processo de mastectomia, pode se inscrever no Fortaleza Digital”, explica.
Secretária das Mulheres, Fátima Bandeira ressalta que a política de mulheres está sendo feita de forma transversal, em conjunto com outras secretarias.
“O prefeito Evandro Leitão tem muita clareza de que essa política precisa passar por todos os setores da Prefeitura. Então, todas as políticas estão sendo desenvolvidas com o devido recorte de gênero”, afirma.
Na solenidade, a titular da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Riane Azevedo, destacou o avanço na redução da fila de espera para a realização de mamografias na rede pública de saúde da Capital.
Segundo a secretária, em outubro, a prefeitura reduziu de 42 mil para 35 mil o número de pacientes aguardando na fila para a realização de mamografia.
O avanço seria resultado da aquisição de seis novos mamógrafos para a rede pública da Capital. De acordo com a Prefeitura, a expectativa é de zerar a fila em um ano.
Os novos equipamentos, entregues no dia 15 de outubro, foram instalados em três Hospitais Distritais Gonzaga Mota (Gonzaguinhas), na Barra do Ceará, na Messejana e no José Walter; em duas policlínicas, no Jóquei Clube e no Jangurussu; e no Hospital da Mulher.
Mastectomizada há 23 anos, Celina Rêgo comemorou a oportunidade de renovar a prótese. Acompanhada do neto Marcos Júnior, de 5 anos, ela enfatiza que quando a mulher coloca o sutiã e uma prótese, isso muda totalmente a percepção do estado emocional.
Para ela, que há 22 anos faz parte da Associação Cearense das Mastectomizadas - Toque de Vida, a ação é especialmente útil para mulheres que não possuem condições de comprar os materiais.
“Principalmente por causa da autoestima, porque a mulher fica totalmente dilacerada. Ela se olha no espelho e vê uma parte dela acabada. Aí, quando ela coloca o sutiã e uma prótese, muda totalmente. Então, um evento desse ou uma ação dessa é muito bom, é maravilhoso”, comemora.
Para a designer de Moda e professora dos 14 ateliês de costura responsável pela fabricação dos materiais entregues na ação, Jana Moura, 49, dois pontos foram cruciais para a produção: a escolha do tecido e do material de preenchimento.
“A gente fez uma pesquisa, pesquisamos o material, que é o polietileno. É um material raro, ele tem que ser um polietileno puro, para que não tenha nenhum problema de alergia pras mulheres. E tem também o tecido em si, que tem que ser uma malha fria, bem gostosa, para que esteja dentro do sutiã de uma maneira bem confortável para as mulheres”, explica.
O processo de fabricação, segundo ela, também tende a ser bastante emocionante, especialmente por envolver mulheres que são mastectomizadas.
“Essa prótese vai não ser só para o dia a dia, mas ela vai poder ir à praia, colocar dentro de um biquíni. Então a autoestima dessa mulher com uma prótese dessa vai lá para cima. A gente fica muito feliz e encantada. E o mais importante também, como nós somos da SDE, geramos também renda para as nossas costureiras, porque as mulheres foram pagas também pelos nossos parceiros para fazer essas próteses”, destaca.
Costureira aposentada, Maria José Souza, de 63 anos, conta que sua autoestima melhorou desde que começou a fazer o uso da prótese, em 2015. “Eu vou renovar, porque a minha já está muito velhinha. Aí aquilo é bom para mim, não só para mim, mas para todas as mulheres que vão receber de forma gratuita, porque uma vez eu comprei e elas não são em um preço tão acessível”, comemora.