A menos de um ano das eleições, ninguém precisa de bola de cristal ou do ChatGPT para entender que segurança é tema central da corrida de 2026, principalmente depois do massacre no Rio de Janeiro e de tudo que se seguiu. Ou seja, o PL antifacção e a tentativa de rearticulação do bloco de direita no âmbito nacional. Quando parecia que o bolsonarismo tinha faca e queijo na mão, com uma agenda forte e amparada pela opinião pública, Tarcísio de Freitas (Republicanos) cometeu mais um erro ao emplacar Guilherme Derrite (PP) na relatoria do projeto que pretendia equiparar facções a grupos criminosos.
Inábil politicamente, para dizer o mínimo, o parlamentar, licenciado da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, tinha pela frente uma tarefa complexa, reconheça-se: costurar um texto que respondesse às demandas de uma sociedade acossada pelo banditismo. A esse arrazoado Derrite se apressou a chamar de "novo marco legal" contra o crime, nome pomposo que escondia seu fracasso de articulação. Em um intervalo de poucos dias, a proposta recebeu quatro versões, todas criticadas pela base e pela oposição. Tal qual Tarcísio em seu voo de galinha presidencial até aqui, Derrite conseguiu incomodar lulistas e bolsonaristas. Previsto para ir a plenário na terça que vem, sua aprovação é incerta, o que só mostra que a exigência de legislação à altura da ameaça das facções não é missão que se entregue a qualquer um.
No cenário local, o quadro não é menos grave. Os números de homicídios no Ceará, divulgados na última semana, estão aí para desmontar a retórica governista segundo a qual endurecimento no palavreado se reflete automaticamente na redução de mortes - tampouco que uma polícia mais letal significa queda nos índices de assassinatos. Pelo contrário, o estado vive uma escalada simultânea no patamar de vítimas por intervenção da PM e no contingente de crimes violentos letais intencionais, embora, no total dos dados de janeiro até agora, tenha havido leve queda nos homicídios em relação ao mesmo período do ano passado.