Ao longo dos anos 1980, com a chegada das gravadoras estrangeiras ao Brasil, a grande questão do mercado era o que fazer para que os ídolos de décadas anteriores vendessem mais. As estratégias incluíam buscar estúdios mais modernos, que garantissem melhor qualidade sonora, e o esforço para convencer esses artistas a cederem um pouco de suas ideias em nome de algo que atraísse mais público. Não foi por acaso que Gonzaguinha gravou discoteca ("Lindo lago do amor") e Moraes Moreira uma balada romântica meio cafona ("Sintonia).
Para Gilberto Gil não houve problemas e ele até aproveitou tudo com gosto. Ele já havia passado por um início inspirado em João Gilberto e Dorival Caymmi, e virado o jogo no desbunde da tropicália, quando cruzou a Banda de Pífanos de Caruaru com Jimi Hendrix. Daí se aproximou do rock, reggae, axé, forró, afrobeat, jazz, gospel, manguebeat, erudito... Gilberto Gil é tantos que tornou-se um astro pop bem antes dessas três letrinhas ditarem as regras do mercado. Na noite deste domingo, 16, ele se apresenta pela última vez em Fortaleza. Já quase encerrando a turnê de despedida, ele passa por aqui relembrando essas muitas fases de uma carreira que combinou pluralidade rítmica com fortuna poética, cuidado social e profundidade filosófica. Gil cruzou o Brasil com sua turnê de despedida, depois de cruzar o mundo muitas vezes com sua música. Agora ele cruza o futuro como parte da nossa história.