Embora seja fictícia, a cena descrita sugere conexões mais estreitas entre três personagens: Daniel Vorcaro, dono do Master; Dias Toffoli, relator no STF do processo que apura a liquidação da instituição financeira; e, finalmente, o ministro Alexandre de Moraes, cuja esposa, também advogada, foi contratada por R$ 129 milhões para defender Vorcaro e o Master em causas inespecíficas, que incluíam de tudo - menos, por surpreendente que seja, o procedimento que resultou na extinção do banco por suspeita de fraude bilionária e emissão de créditos falsos.
Some-se a isso a denúncia, feita pela jornalista Malu Gaspar e ainda por se comprovar, segundo a qual Moraes teria tratado sobre o Master em sucessivos encontros com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, de modo a facilitar sua venda para o BRB, banco estatal de Brasília, salvando da solvência a empresa que vinha engordando em mais de R$ 3 milhões mensais a conta de Viviane Barci de Moraes e dos dois filhos do casal que constituem a banca familiar.
Não é preciso ter carteirinha de perito criminal para sentir cheiro de malfeito nesse engodo entre interesses pessoais e públicos, num caldo grosso de patrimonialismo que remonta à fundação da República. E não apenas porque Moraes pode ter sido apanhado de calças curtas.
Tudo nessa história, na verdade, parece mal explicado, do voo de Toffoli com um advogado do Master para assistir a um jogo de futebol no Peru até a soltura de Vorcaro no mesmo dia e a posterior decretação de sigilo no caso, que o próprio Toffoli tratou de matar no peito. Com um agravante: a acareação determinada pelo ministro para terça, dia 30, pondo frente a frente Vorcaro, um ex-diretor do BRB e um servidor do BC, numa etapa da investigação na qual não existe ainda necessidade de contrastar versões.
Logo, não é exagero concluir que a conduta do magistrado soa como tentativa não de esclarecer os fatos, mas de emparedar Galípolo, fazendo girar em falso o prato da balança: de autarquia responsável pela lisura das transações bancárias, o BC passaria à condição de investigado.