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Maior crise do capitalismo, Crash da Bolsa de 29 aconteceu enquanto Ceará debatia mortes causadas pela seca
Reportagem Especial

Maior crise do capitalismo, Crash da Bolsa de 29 aconteceu enquanto Ceará debatia mortes causadas pela seca

Quebra da bolsa de Nova York completa 90 anos nesta quinta-feira, 24 de outubro

Maior crise do capitalismo, Crash da Bolsa de 29 aconteceu enquanto Ceará debatia mortes causadas pela seca

Quebra da bolsa de Nova York completa 90 anos nesta quinta-feira, 24 de outubro
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A maior crise econômica do século XX e do capitalismo completa 90 anos nesta quinta-feira, 24. O crash (quebra) da bolsa de valores de Nova York aconteceu em 24 de outubro de 1929, dia que entrou para a história como a “Quinta-feira negra”. A crise que colapsou o mundo ocidental foi retratada nas páginas do O POVO, deixando lições para governos e mercados nos mais diversos países. Enquanto isso, sem indústria, o Ceará discutia à época sobre as mortes causadas pela seca.

Ocasionada pelo fato de os EUA terem produzido mais do que tinham capacidade de vender, a crise afetou além do próprio país americano, parceiros comerciais europeus e latinos. No antigo continente, as nações que se recuperavam dos problemas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) avançaram seu processo de industrialização durante a década de 1920, após terem realizado empréstimos e importações dos americanos.

 
 
 
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Diferentemente do que acontecia na América Latina, onde havia países menos industrializados. O Brasil, que baseava sua economia na produção e na exportação do café, foi duramente afetado quando o seu principal cliente, os Estados Unidos, parou de comprar o produto. À época, o País vivia a política do Café com Leite, momento em que a Presidência da República era alternada entre políticos oriundos de São Paulo e Minas Gerais, principais produtores dos insumos que deram nome ao período.

Iniciada ainda em 1898, essa política perdurou até 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder por meio do golpe de Estado denominado por ele próprio de “Revolução de 30”. Antes disso, em 26 de fevereiro daquele ano, O POVO publicou entrevista do influente político carioca Maurício de Lacerda. Apoiador de Vargas, classificou a importância da chegada do gaúcho à Presidência para barrar os efeitos da crise econômica que batia “às portas do ricos”.

Made with Flourish

Em maio de 1930, o presidente Washington Luís discursou no Congresso Nacional minimizando os danos ocorridos no ano anterior, o qual classificou como “difícil devido à crise industrial, à crise agrícola, à questão política”. Mesmo com ambiente econômico desfavorável, o então chefe do Executivo nacional afirmou que o “governo enfrentou a crise do café, por intermédio do Banco do Brasil, dominando-a completamente”. No período da Grande Depressão, entretanto, as exportações do grão brasileiro foram reduzidas por volta de 60% e seu preço caiu cerca de 90% no mercado internacional.

Já no Governo Vargas, medidas foram criadas para melhorar a situação dos brasileiros, como a criação da “Carteira do Redesconto”, do Banco do Brasil. “Esperando-se (que) venha melhorar a situação aggravada com a crise financeira” (sic.), foi a nota publicada em 27 de dezembro de 1930. 11 dias depois, as páginas do O POVO publicaram entrevista de Getúlio, tratado como “chefe do governo provisório”, concedida ao jornalista Assis Chateaubriand.

O depoimento versou sobre diversos assuntos da economia, a qual, afetada pela depressão dos mercados mundiais, obrigou o governo brasileiro a realizar cortes de gastos de até 20% nas repartições federais. Otimista, Getúlio Vargas anunciou naquele momento que iria incentivar exportações “de modo a assegurar maiores disponibilidades para cobrir folgadamente” os compromissos do País na balança comercial.

Os efeitos da Grande Depressão continuaram a se intensificar nos anos que passavam. Em 2 de março de 1933, O POVO publicou matéria com o título “Crise bancária nos Estados Unidos”, que comunicava sobre a falência do Commercial National Bank, em Washington. “Fechou suas portas em consequência de pesadas retiradas feitas por vários depositantes”, informou a edição, prosseguindo: “A crise bancaria norte-americana continúa apesar na posição do dollar, que sofreu numerosas flutuações (sic.).”

Dividindo aquela mesma página, outra crise assolava não as economias mundiais, mas a vida dos habitantes do Ceará. Enquanto o mundo discutia a recuperação da superprodução e da especulação do mercado financeiro, o Estado ainda vivia de atividades agropastoris, sem possuir indústrias e desconhecendo a palavra “capitalismo”.

Na seção obituário, da mesma edição que anunciava a falência de mais um banco americano, havia o registro de mortes de pessoas vítimas de uma das mais emblemáticas estiagens da história cearense: a Seca de 1932. Mesmo sem relação com o Crash de 29, o registro da época foi de que “o mal” da seca existia, “para desdita e vergonha” do cearense, principalmente com a morte de crianças.

Pesquisa histórica: Fred Souza, do O POVO Dados

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