Amazon, Apple, Facebook e Google são poderosos demais e provavelmente sairão da pandemia do novo coronavírus ainda mais fortes, afirmou ontem o presidente da Comissão Antitruste do Congresso dos Estados Unidos, David Cicilline, ao abrir uma audiência sem precedentes com os CEOs dos gigantes da tecnologia.
Jeff Bezos (Amazon), Tim Cook (Apple), Mark Zuckerberg (Facebook) e Sundar Pichai (Google) testemunham remotamente ao subcomitê judicial da Câmara dos Representantes, que investiga se suas empresas violam leis antitruste.
"Simplificando, eles têm muito poder. Esse poder impede novas formas de competição, criatividade e inovação", disse o representante democrata de Rhode Island. "As plataformas dominantes exerceram seu poder de uma maneira destrutiva e prejudicial à expansão".
A histórica sessão perante o subcomitê ocorreu em meio à preocupação crescente pelo domínio dessas "Big Tech" e a uma investigação sobre a concorrência no marco de lei antimonopólio.
A audiência abordou outros temas como discurso de ódio, desigualdade econômica, privacidade e proteção de dados e até mesmo os comentários frequentemente virulentos do presidente Donald Trump.
"Indo direto ao ponto: a grande tecnologia persegue os conservadores", disse Jim Jordan, congressista republicano de Ohio. "Não é uma suspeita. Não é um palpite. É um fato".
O republicano Gregory Steube, da Flórida, por sua vez, questionou a remoção pelo Google de um vídeo que promove o tratamento não comprovado da Covid-19 com hidroxicloroquina, alegando que isso "silencia a opinião dos médicos".
Trump, que acusou o Facebook e o Twitter de censurar seus comentários, interveio com um tuíte pouco antes do início da audiência. "Se o Congresso não fizer justiça com as Big Tech, como deveria já ter feito há anos, eu mesmo o farei com ordens executivas", prometeu.
Zuckerberg e Pichai rejeitaram as alegações de que suas plataformas filtram visões conservadoras. "Nosso objetivo é oferecer uma plataforma para todas as ideias", disse Zuckerberg. "Queremos dar voz a todo mundo". "Nós focamos nosso trabalho de maneira não partidária", complementou Pichai.
Enquanto isso, Tim Cook enfrentou questões difíceis sobre o poder de mercado da App Store da Apple e seu tratamento aos desenvolvedores. "Tratamos todos os desenvolvedores de aplicativos da mesma maneira", disse Cook. "Não retaliamos nem intimidamos as pessoas".
Alguns legisladores tentaram amenizar as críticas aos gigantes da Internet, que também foram elogiados por sua inovação e introdução de novas tecnologias. O republicano Jim Sensenbrenner argumentou que "ser grande não é necessariamente mau". "Pelo contrário, nos Estados Unidos devemos ser recompensados pelo sucesso", acrescentou o legislador de Wisconsin.
Bezos, em sua primeira aparição ao Congresso, defendeu a forma como a Amazon lida com os vendedores externos, após ser alvo de críticas de Cicilline. "Não é verdade que as pequenas empresas não têm escolha a não ser recorrer à Amazon para se conectar com os clientes e fazer vendas on-line?", perguntou o presidente do comitê.
"Ouvimos repetidas vezes de fornecedores externos apontar no decorrer de nossa investigação que a Amazon é a única possibilidade", acrescentou.
Bezos rejeitou a alegação e observou: "Existem muitas opções para pequenas empresas. Acho que somos a melhor delas". Em comentários preparados antes da audiência, Bezos lembrou suas origens humildes, bem como a perda de bilhões de dólares nos primeiros anos da Amazon.
"Fui de um emprego permanente para uma garagem em Seattle para fundar minha startup, entendendo perfeitamente que ela podia não dar certo", disse Bezos, o homem mais rico do mundo.
Zuckerberg chamou o Facebook de "empresa orgulhosamente americana", acrescentando que a história do colosso da mídia social "não seria possível sem as leis dos Estados Unidos que incentivam a concorrência e a inovação".
Cook descreveu a Apple como "uma empresa exclusivamente americana cujo sucesso só é possível" naquele país, cuja missão é "fornecer coisas que enriquecem a vida das pessoas".
As leis antimonopólio dos EUA dificultam que os reguladores tomem medidas contra as empresas simplesmente porque são grandes ou dominantes se não puderem demonstrar que prejudicam os consumidores ou abusam de seu poder de mercado.
O subcomitê judicial, no entanto, poderia estabelecer um modelo antimonopólio para a era digital que requer uma reescrita fundamental das leis seculares que regulam a concorrência.