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Após 12 anos, era Netanyahu em Israel está por um fio
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Após 12 anos, era Netanyahu em Israel está por um fio

Possível saída do primeiro-ministro israelense reforça padrão mundial do ponto de vista político: governos com pautas mais tradicionais e fama de linha dura estão enfrentando mais resistência; inclusive de aliados
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O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu faz uma declaração política no Knesset, o Parlamento israelense, em Jerusalém, em 30 de maio de 2021. - O linha-dura nacionalista Naftali Bennett disse hoje que se juntaria a uma coalizão governamental que poderia acabar com o governo do país mais antigo líder, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. (Foto de YONATAN SINDEL / POOL / AFP) (Foto: YONATAN SINDEL / POOL / AFP)
Foto: YONATAN SINDEL / POOL / AFP O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu faz uma declaração política no Knesset, o Parlamento israelense, em Jerusalém, em 30 de maio de 2021. - O linha-dura nacionalista Naftali Bennett disse hoje que se juntaria a uma coalizão governamental que poderia acabar com o governo do país mais antigo líder, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. (Foto de YONATAN SINDEL / POOL / AFP)

Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo da história de Israel e o único ocupante da cadeira a nascer após a fundação do estado judeu, está ameaçado no cargo. O desgaste político, com acusações de abuso de poder e corrupção, derreteu sua imagem nos últimos anos. Aproveitando a brecha, opositores ganharam espaço e tentam formalizar união para garantir maioria no Knesset, o parlamento israelense, e por fim a era Netanyahu.

Atualmente, Israel vivencia um conturbado contexto político com quatro eleições em dois anos, e o risco de uma quinto pleito caso a aliança anti-Netanyahu não formalize maioria no parlamento até a próxima quarta-feira, 2. O último capítulo do conflito entre Israel e grupos palestinos, no mês passado, devolveu ao centro do debate o sentimento de unidade nacional e garantiu campo fértil para a ideia dos opositores de uma nova e ampla aliança.

 

Um dos representantes do populismo mais à direita, movimento que ganhou espaço mundialmente nos últimos anos, Netanyahu está no cargo de primeiro-ministro desde 2009, tendo exercido a mesma função entre 1996 e 1999. Ele ascendeu politicamente a partir da defesa de bandeiras como a luta contra o Irã, inimigo histórico israelense, a soberania de Israel em relação à disputa territorial com os palestinos e a “luta contra o terrorismo”.

Netanyahu ganhou o apelido de "O Mago" da política pela sua capacidade de se manter no poder por tanto tempo. E o fez a partir de concessões a aliados de ocasião quando necessário e beneficiado pela fragmentação das forças políticas de Israel, que tem muitos partidos de menor expressão e um sistema eleitoral proporcional que dificulta formação de unidade nacional.

A possível saída do premiê reforça um padrão mundial do ponto de vista político: governos com pautas mais tradicionais e fama de linha dura estão enfrentando mais resistência,  inclusive de aliados. O fenômeno, visto recentemente em países como Estados Unidos, Reino Unido, Colômbia e Chile, revela a necessidade de correção de rotas, sob o risco de perda de capital político. Netanyahu já deu exemplo disso ao investir na vacinação contra a Covid-19, usando o sucesso da campanha como carta na manga para voltar a ter aprovação.

Fabio Gentile, PhD em Filosofia e Política pela Universidade L'Orientale, de Nápoles, classifica Netanyahu como um “habilidoso equilibrista político”. “Ele retornou com êxito ao poder por ser um conhecedor da situação de Israel. De modo geral, é um político que passou muito tempo no poder por ser uma figura prestigiada e que ao longo da carreira desempenhou seu papel com resultados mais ou menos satisfatórios nas relações exteriores e na política interna”, aponta.

Entretanto, Gentile ressalta que é natural que o dinamismo político gere, em algum momento, o "esgotamento do projeto” e diz que os casos nos quais Netanyahu é investigado por abuso de poder e corrupção influenciaram na unificação da oposição.

“A insatisfação geral dos partidos, dos mais diversos espectros políticos (da ultradireita à esquerda), mostra isso”, diz, lembrando que algumas das legendas são comandadas por ex-aliados de Netanyahu.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu participa de uma cerimônia em memória dos mortos do Altalena no cemitério Nachalat Yitzhak na cidade costeira de Tel Aviv, em 26 de maio de 2021. (Foto de JACK GUEZ / AFP)
Foto: JACK GUEZ / AFP
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu participa de uma cerimônia em memória dos mortos do Altalena no cemitério Nachalat Yitzhak na cidade costeira de Tel Aviv, em 26 de maio de 2021. (Foto de JACK GUEZ / AFP)

“A manutenção de Netanyahu no poder pode ser vista também como uma dificuldade que Israel teve de renovar suas forças políticas. Até então, o país não foi exitoso em construir outra figura capaz de gerar a confiança dos atores para ser o equilíbrio necessário à situação”, reforça, sugerindo que a eventual saída pode ser o início da construção dessa nova liderança.

Apesar de desgastado, a tendência é de que Netanyahu siga exercendo influência política, pelo peso de sua longa gestão e pela base social que construiu em décadas de vida pública. Isso se os julgamentos que enfrenta por abuso de poder não o condenarem antes. Ou mesmo reverter o cenário político a seu favor mais uma vez.

 

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