Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo da história de Israel e o único ocupante da cadeira a nascer após a fundação do estado judeu, está ameaçado no cargo. O desgaste político, com acusações de abuso de poder e corrupção, derreteu sua imagem nos últimos anos. Aproveitando a brecha, opositores ganharam espaço e tentam formalizar união para garantir maioria no Knesset, o parlamento israelense, e por fim a era Netanyahu.
Atualmente, Israel vivencia um conturbado contexto político com quatro eleições em dois anos, e o risco de uma quinto pleito caso a aliança anti-Netanyahu não formalize maioria no parlamento até a próxima quarta-feira, 2. O último capítulo do conflito entre Israel e grupos palestinos, no mês passado, devolveu ao centro do debate o sentimento de unidade nacional e garantiu campo fértil para a ideia dos opositores de uma nova e ampla aliança.
Um dos representantes do populismo mais à direita, movimento que ganhou espaço mundialmente nos últimos anos, Netanyahu está no cargo de primeiro-ministro desde 2009, tendo exercido a mesma função entre 1996 e 1999. Ele ascendeu politicamente a partir da defesa de bandeiras como a luta contra o Irã, inimigo histórico israelense, a soberania de Israel em relação à disputa territorial com os palestinos e a “luta contra o terrorismo”.
Netanyahu ganhou o apelido de "O Mago" da política pela sua capacidade de se manter no poder por tanto tempo. E o fez a partir de concessões a aliados de ocasião quando necessário e beneficiado pela fragmentação das forças políticas de Israel, que tem muitos partidos de menor expressão e um sistema eleitoral proporcional que dificulta formação de unidade nacional.
A possível saída do premiê reforça um padrão mundial do ponto de vista político: governos com pautas mais tradicionais e fama de linha dura estão enfrentando mais resistência, inclusive de aliados. O fenômeno, visto recentemente em países como Estados Unidos, Reino Unido, Colômbia e Chile, revela a necessidade de correção de rotas, sob o risco de perda de capital político. Netanyahu já deu exemplo disso ao investir na vacinação contra a Covid-19, usando o sucesso da campanha como carta na manga para voltar a ter aprovação.
No feriado israelense do Purim, o Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu vai à tv combater as Fake News contra a vacinação e anunciar que, em breve, o país será o 1º a se livrar da crise causada pela Covid-19. pic.twitter.com/PZjpgjdpWP
— Samuel Pancher (@SamPancher) February 26, 2021
Fabio Gentile, PhD em Filosofia e Política pela Universidade L'Orientale, de Nápoles, classifica Netanyahu como um “habilidoso equilibrista político”. “Ele retornou com êxito ao poder por ser um conhecedor da situação de Israel. De modo geral, é um político que passou muito tempo no poder por ser uma figura prestigiada e que ao longo da carreira desempenhou seu papel com resultados mais ou menos satisfatórios nas relações exteriores e na política interna”, aponta.
Entretanto, Gentile ressalta que é natural que o dinamismo político gere, em algum momento, o "esgotamento do projeto” e diz que os casos nos quais Netanyahu é investigado por abuso de poder e corrupção influenciaram na unificação da oposição.
“A insatisfação geral dos partidos, dos mais diversos espectros políticos (da ultradireita à esquerda), mostra isso”, diz, lembrando que algumas das legendas são comandadas por ex-aliados de Netanyahu.
“A manutenção de Netanyahu no poder pode ser vista também como uma dificuldade que Israel teve de renovar suas forças políticas. Até então, o país não foi exitoso em construir outra figura capaz de gerar a confiança dos atores para ser o equilíbrio necessário à situação”, reforça, sugerindo que a eventual saída pode ser o início da construção dessa nova liderança.
Apesar de desgastado, a tendência é de que Netanyahu siga exercendo influência política, pelo peso de sua longa gestão e pela base social que construiu em décadas de vida pública. Isso se os julgamentos que enfrenta por abuso de poder não o condenarem antes. Ou mesmo reverter o cenário político a seu favor mais uma vez.