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Falta de um "polo de centro" provoca continuidade de acirramento na região, diz pesquisador
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Falta de um "polo de centro" provoca continuidade de acirramento na região, diz pesquisador

Tendência é que polarização e disputa de hegemonia entre populismos de direita e esquerda siga ocorrendo pelo continente
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A polarização em países sul-americanos, registrada com maior intensidade nos últimos cinco anos, é terreno fértil para o acirramento das relações entre as sociedades e suas instituições nacionais. Tornou-se frequente na região, sobretudo em períodos eleitorais, que alegações de fraude sejam feitas e que o sentimento de “nós contra eles” tome conta do debate. Brasil, Bolívia, Peru e Equador são alguns dos exemplos mais recentes.

Sobre a crescente polarização política na América do Sul, o professor Fabio Gentile, PhD em Filosofia e Política pela Universidade L’Orientale, de Nápoles, aponta que o fenômeno não é exclusividade da região, mas uma “tendência mundial”.

De fato, os Estados Unidos viram o ex-presidente Donald Trump alegar fraude eleitoral e Israel viu seu ex-primeiro ministro Benjamin Netanyahu flertar com o mesmo expediente. Atos que não tiveram efeito prático no resultado, mas que geraram danos e questionamentos às instituições dessas nações.

Na América do Sul o problema é o mesmo, só que tende a ser mais frequente. Segundo Gentile, num contexto geral da região, “falta um polo de centro” e a organização de um “movimento massivo” desse espectro para dar opções ao povo. “Observamos movimentos radicais ganhando força e impondo que ‘ou é de um jeito ou de outro’, não há meio-termo”.

O pesquisador destaca ainda que a polarização é um reflexo de problemas políticos e sociais, com características particulares, em cada país. “As sociedades na região são muito polarizadas e é sobre qualquer coisa. O próprio posicionamento sobre a pandemia reflete esse radicalismo. Ou a favor ou contra a vacina, a favor ou contra o uso de máscaras”, exemplifica sugerindo que mesmo fatos comprovados cientificamente não são suficientes para reduzir o acirramento.

Analisando cenários mais recentes, Gentile aponta que as eleições no Peru, com uma diferença de menos de 45 mil votos entre dois candidatos completamente opostos, os protestos na Colômbia, que já duram três meses, e as eleições de 2022 no Brasil são fatores que indicam que a polarização que está marcando a região há alguns anos seguirá ocorrendo.

É fato também que a política é dinâmica. Na década de 1990, o ex-presidente peruano, o ditador Alberto Fujimori foi um dos exemplos da onda de produção de políticas neoliberais na região, que depois foi sucedida por governos mais moderados em outros países.

Nos anos 2000 foi a vez da chamada "Onda Rosa" de esquerda chegar ao poder em países como Argentina, Brasil e Uruguai. Já na metade da última década, o populismo mais à direita ganhou força novamente.

Atualmente, Gentile diz que há uma divisão e disputa por hegemonia; “O que observamos é um fenômeno de volta de ambos os populismos, de direita e esquerda, em países distintos. À direita temos Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Uruguai e Paraguai. Do outro lado, países como Argentina, Bolívia, Peru e Venezuela têm representantes do populismo mais à esquerda”.

O professor ressalta ainda que esses movimentos não são simétricos. Segundo ele, cada um tem sua trajetória e ideologia que não pode ser resumida a uma reação ao que o outro faz.

“Não podemos cair nessa lógica mecanicista quando pensamos nesse tema, sobretudo na América Latina. Isso é comprovado pela postura diferente que alguns representantes desses populismos têm a respeito dos princípios fundamentais da Constituição”, conclui.

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