"Vou votar, mas bastante decepcionado", disse um dos jovens que participou da revolta social de 2019 e que hoje sente que nenhum dos sete candidatos para as eleições deste domingo atende aos pedidos das ruas. Danilo Panes, sociólogo de 26 anos, relembra os protestos que eclodiram em 18 de outubro de 2019. Após vários dias de manifestações devido ao aumento do preço da passagem do metrô, mais pessoas aderiram até que uma poderosa revolta social mudou a política do país.
Em 2011, quando os protestos sociais começaram com mais força no Chile, Panes também participou das massivas manifestações estudantis que surgiram durante o primeiro governo do conservador Sebastián Piñera (2010-2014) exigindo uma “educação pública, gratuita e de qualidade”.
Cinco anos antes, estudantes do ensino médio e sua "Revolução dos Pinguins" avisaram que os jovens seriam os protagonistas das mudanças sociais em uma nação considerada por anos um exemplo de estabilidade econômica e social.
Mas agora, às vésperas de uma eleição presidencial, os candidatos “não conseguem expressar uma alternativa coerente com o que o povo exigiu em outubro”, acrescenta o sociólogo. Estima-se que no Chile 50% dos 15 milhões de eleitores estão indecisos se irão votar.
Com sete candidatos em disputa e propostas que vão da extrema esquerda à extrema direita, nenhuma consegue convencer que será capaz de promover uma mudança para alcançar maior igualdade social, melhor acesso à saúde e educação, pensões e igualdade de gênero.
A elaboração de uma nova Constituição em substituição à herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) foi uma das grandes demandas das manifestações de 2019, canalizadas para um acordo político que convocou um plebiscito para deliberar sobre a alteração da Carta Magna.
A possibilidade de mudar o atual modelo neoliberal chileno por meio de uma nova Constituição fez com que os jovens votassem em massa no plebiscito de 25 de outubro de 2020, quando a opção "aprovo" foi a escolhida de 79%. Sete meses depois, em 15 de maio, foram eleitos os 155 membros da Assembleia Constitucional que iniciou a redação da nova Carta em 4 de julho.
“Mas votar para presidente ou parlamentar é menos atraente para os jovens. Temos uma reticência, porque não sabemos se aqueles jovens que vieram votar pela primeira vez (no plebiscito), que são 1,2 milhão, vão votar novamente ", disse Axel Callis, analista e diretor do site TuInfluyes.com.
“Se as propostas não visam gerar uma mudança e uma transformação no sistema econômico e político, também não convocarão” muitos jovens, diz Rodrigo Hidalgo, professor de história de 28 anos.
Em meio ao tédio da maioria dos candidatos, Gabriel Boric, o deputado de esquerda de 35 anos, é quem desperta maior adesão entre os jovens. Ex-líder estudantil, este 'millennial' mudou sua imagem de político roqueiro por uma mais séria e hoje é um dos favoritos para vencer as eleições.
“Boric tem uma força incomum nos setores do ABC1 (os mais ricos) e principalmente na juventude”, diz Mauricio Morales, analista político da Universidade de Talca.
O ultraconservador José Antonio Kast - contrário ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo - pode disputar um segundo turno com Boric, segundo pesquisas.