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Democracia americana continua à prova um ano depois
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Democracia americana continua à prova um ano depois

| EUA | Invasão ao Capitólio deixou sequelas que ainda devem marcar a política dos Estados Unidos nos próximos anos
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DONALD Trump fez discurso em Washington incitando apoiadores poucos momentos antes da invasão ao Capitólio (Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP)
Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP DONALD Trump fez discurso em Washington incitando apoiadores poucos momentos antes da invasão ao Capitólio

Um ano após apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio, os americanos ainda esperam que os responsáveis por esse ataque sem precedentes à democracia prestem contas. Os vídeos de 6 de janeiro de 2021 são a prova da violência perpetrada em nome do ex-presidente: espancamento de policiais com barras de ferro, um agente esmagado contra o batente de uma porta gritando de dor, agressores vestidos com roupas de combate enquanto o vice-presidente fugia, uma mulher morta a tiros nos corredores do Congresso...

Essa tentativa de impedir Joe Biden de assumir o cargo após sua vitória nas eleições de novembro de 2020 continua suscitando muitas questões. Foi uma manifestação que degenerou em tumulto? Ou uma revolta e uma tentativa de golpe planejada por Donald Trump?

"Nem mesmo durante a Guerra Civil os insurgentes violaram nosso Capitólio, a cidadela de nossa democracia", disse Biden em julho. "Não foi dissidência. Foi desordem. Causou uma crise existencial e um teste para ver se nossa democracia sobreviveria", acrescentou.

WASHINGTON, DC - 5 DE MAIO: O presidente dos EUA Joe Biden sai após um evento no State Dining Room da Casa Branca em 5 de maio de 2021 em Washington, DC. O presidente Biden fez comentários sobre a implementação do Plano de Resgate Americano por sua administração. Alex Wong / Getty Images / AFP (Foto de ALEX WONG / GETTY IMAGES AMÉRICA DO NORTE / Getty Images via AFP)(Foto: Getty Images via AFP)
Foto: Getty Images via AFP WASHINGTON, DC - 5 DE MAIO: O presidente dos EUA Joe Biden sai após um evento no State Dining Room da Casa Branca em 5 de maio de 2021 em Washington, DC. O presidente Biden fez comentários sobre a implementação do Plano de Resgate Americano por sua administração. Alex Wong / Getty Images / AFP (Foto de ALEX WONG / GETTY IMAGES AMÉRICA DO NORTE / Getty Images via AFP)

Trump poderoso

Até o momento, mais de 700 pessoas foram acusadas de agredir policiais, entrar no Congresso e saquear seus corredores. As investigações mostraram que Trump e seus aliados fizeram um esforço conjunto para evitar que a sessão presidida pelo vice-presidente Mike Pence no Congresso certificasse a vitória de Biden nas eleições presidenciais de novembro de 2020 naquele dia. A questão é: existe uma ligação entre esses dois eventos?

Nesta foto de arquivo tirada em 6 de janeiro de 2021, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, (C), caminha pelo Statuary Hall do Capitólio dos EUA em Washington, DC.(Foto: CHERISS MAY / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)
Foto: CHERISS MAY / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP Nesta foto de arquivo tirada em 6 de janeiro de 2021, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, (C), caminha pelo Statuary Hall do Capitólio dos EUA em Washington, DC.

Uma comissão especial da Câmara dos Representantes investiga isso, mas, quanto mais longe vai, mais complicado se torna. Se encontrar evidências de que Trump, derrotado nas eleições, incitou o ataque ou conspirou para manter o poder, arriscará tensões maiores para buscar um processo criminal contra o ex-presidente, algo sem precedentes na história do país.

Por ocasião do primeiro aniversário do ataque, Trump, que mantém algum controle no Partido Republicano, anunciou uma entrevista coletiva na Flórida, em que provavelmente repetirá que a eleição foi roubada. Apesar de não haver evidências que provem suas alegações, pesquisas mostram que cerca de dois terços dos eleitores republicanos acreditam nisso.

E quase todos os congressistas republicanos, bem cientes do poder político de Donald Trump, parecem apoiá-lo. Porque o partido quer retomar o poder nas eleições legislativas de meio de mandato em 2022 e nas eleições presidenciais de 2024, às quais Trump pode concorrer novamente.

Corrida contra o tempo

Nesta foto de arquivo tirada em 06 de janeiro de 2021, Richard Barnett, um apoiador do presidente dos EUA Donald Trump, segura uma correspondência enquanto está sentado no escritório da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, após manifestantes violarem o Capitólio dos EUA em Washington, DC.(Foto: SAUL LOEB / AFP)
Foto: SAUL LOEB / AFP Nesta foto de arquivo tirada em 06 de janeiro de 2021, Richard Barnett, um apoiador do presidente dos EUA Donald Trump, segura uma correspondência enquanto está sentado no escritório da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, após manifestantes violarem o Capitólio dos EUA em Washington, DC.

A comissão, que até agora interrogou quase 300 pessoas, deve terminar seu trabalho antes das eleições de meio de mandato em novembro de 2022 porque os republicanos podem retomar o controle da Câmara e encerrar a investigação. Em dezembro, Liz Cheney, membro do colegiado e uma das poucas republicanas que apoiam a investigação, disse claramente que Trump está no centro das atenções.

"Nunca na história do nosso país uma investigação parlamentar sobre as ações de um ex-presidente foi tão justificada", comentou. "Não podemos ceder às tentativas do presidente Trump de esconder o que aconteceu", acrescentou.

Para William Galston, cientista político do Brookings Institution, "6 de janeiro foi o prenúncio de um perigo claro e presente". "A tentativa de invalidar os resultados de uma eleição democrática fracassou, mas será assim em três anos? Não está tão claro", aponta. "Porque as pessoas que estavam determinadas a invalidar as eleições de 2020 aprenderam muito."

Trump

Uma comissão de inquérito da Câmara americana tenta descobrir que papel Trump e seus colaboradores tiveram na invasão. Se conseguirem encontrar provas para acusá-lo, os promotores vão usá-las. Mais de 725 simpatizantes do ex-presidente já foram presas ou indiciadas

 

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